Skip to main content

A resposta experiencial

CAPÍTULO 26

Eugene T. Gendlin, PH.D. REGRAS PARA RESPOSTAS
Tradução: Ricardo Simão e Matheus Cautiero

Significado sentido

Problemas pessoais e dificuldades em viver nunca são apenas cognitivos, nunca apenas uma questão de como são interpretados ou entendidos. Existe sempre uma dificuldade afetiva, emocional, sentida, concreta, experiencial. Os pensamentos e interpretações individuais fluem, e são amplamente influenciados por seus estilos de vida afetivos em suas situações.

A resposta de uma pessoa que auxilia desta maneira, deve ter ao menos algumas vezes, um efeito experiencial¹ afetivo, se é para que tenham algum efeito de resolução do problema de alguma forma. A pergunta, “Qual é a o melhor tipo de resposta do terapeuta?” nos leva à questão, “Como pode a resposta do terapeuta ter um efeito experiencial concreto no indivíduo?”


 

¹Nestas notas de rodapé, eu irei comentar sobre as relações entre psicanálise e psicoterapia experiencial ou centrada no cliente. Minha visão é a de que, quando efetiva (e feita com os melhores terapeutas em cada orientação prescrita), os dois modos de respostas são extremamente similares. Contudo, o modo no qual a resposta ideal do terapeuta é conceituada nestas duas escolas é bem diferente, e desta maneira, os modos típicos de compreendê-los são também diferentes. Portanto, diferentes armadilhas surgem nas duas diferentes orientações.

Um efeito experiencial é também um objetivo de boas interpretações psicanalíticas. Fenichel (1945) disse: “Ao dar uma interpretação, o analista procura intervir na interação dinâmica de forças, pra mudar o equilíbrio... O grau em que esta mudança ocorre de fato é o critério para validade de uma interpretação. Uma interpretação válida traz junto uma mudança dinâmica...”. Desta maneira, uma interpretação não deve ser apenas correta, mas deve produzir uma mudança dinâmica. Acima, eu emprego um vocabulário experiencial, e denomino o que considero ser o mesmo evento, um “efeito experiencial”. É um efeito no qual o indivíduo pode sentir, concretamente. 


A resposta do terapeuta do tipo centrado no cliente costumava ser chamada “reflexo do sentimento.” Considerando como ela se desenvolveu desde então (Rogers, 1958, 1961, 1963; Gendlin, 1955-66, Gendlin e Zimring; 1955; Butler, 1958), é provável que seja melhor denominada uma “resposta experiencial”.

“Reflexo do sentimento” enfatizava sentimento, afeto, uma experiência concreta; mas,  a palavra “sentimento” parece se referir a emoções muito específicas, tais como amor, ódio, alegria, raiva, medo. É claro, existem ocasiões em que realmente sentimos emoções bem distintas deste tipo, mas muito mais frequentemente, não sentimos nada tão claro quanto isso. Ao invés disso, enfrentamos uma situação complicada e pouco clara. Rogers (1951) explica “reflexão de atitudes” (o que logo passou a ser chamada de “reflexão do sentimento”) com exemplos como, “Isto faz você se sentir desamparado”. “Desamparado” não é realmente uma emoção. Da mesma forma, na maioria das vezes alguém se sente, por exemplo, “chateado”, “desconfortável ou ressentido por... ou preocupado que...” ou “esperando por... mas desanimado á...” Estas condições mais comuns não são realmente “emoções”, mas maneiras complicadas de reagir e formas como nos vemos nas situações.

A partir desses exemplos, nós podemos formar três conclusões: Primeiro, a resposta experiencial não se refere a emoções nitidamente claras, mas a uma experiência muito mais complexa. Nós podemos sentir tudo isto intensamente, mesmo que nós não saibamos claramente o que sentimos.

Segundo, o que sentimos não é um objeto interno (um “estado afetivo”, como algo apenas dentro de nós), mas uma sensação sentida de toda uma situação - como estamos nessa situação, o que acrescentamos a ela, como a percebemos e sentimos a seu respeito.

Em terceiro lugar, esta sensação sentida também envolve como nós interpretamos e construímos a situação. Portanto, essa sensação sentida, não é algo somente sentido, mas é também intelectual. Podemos ficar bastante confusos sobre o que isto envolve, mas ao menos implicitamente, sempre envolve aspectos de interpretação, isto é, pensamento, aprendizagem, percepção e interpretação.

Desta forma, o “sentimento” ao qual respondemos em outra pessoa geralmente não é uma emoção claramente definida, não é usualmente separada da situação, e não se apresenta sem alguma cognição intelectual implícita. Para que o terapeuta responda, “Você está preocupado que...”, menciona uma experiência do indivíduo que inclui, em toda sua sensação, seu sentimento de uma situação interpretada intelectualmente.

É claro que, como terapeutas, podemos não estar mais preocupados com as situações específicas presente do indivíduo, tanto quanto com as dificuldades de personalidade que ele traz para todas as suas situações. Estas dificuldades não devem ser conceituadas como se elas fossem pequenas coisas dentro dele. Elas são reais, perceptíveis e sentidas por ele apenas, já que ele vive essas situações (com outras pessoas, ou sozinho em seu quarto). A resposta experiencial por parte do terapeuta aponta para o sentimento concreto do paciente que sempre inclui implicitamente os aspectos situacionais e intelectuais, isto é, como o indivíduo configura e interpreta situações, seus aprendizados desajustados, experiências passadas, e formas de perceber e criar situações.

Normalmente, no momento em que a pessoa esta “"enfrentando" uma situação, ela já a criou, configurou, e a interpretou com suas emoções, aprendizados, experiências anteriores e portanto, com todas suas dificuldades de personalidade. Desta forma, é correto dizer que a situação específica não importa; apenas suas dificuldades de personalidade realmente importam. Seria um erro, contudo, conceituar dificuldades de personalidade em termos de entidades internas e procurar responder a tais entidades, enquanto se ignora a forma pela qual elas realmente se manifestam e são sentidas na experiência do indivíduo.

A experiência sempre envolve, não entidades emocionais, mas complexidades detalhadas da pessoa-situação que são concretamente sentidas.

Apesar de serem sentidas por um indivíduo, tudo isso pode ainda não ter sido  traduzido em palavras e pode não ter sido diretamente visto em termos de significados ou padrões cognitivos conhecidos. Muitas facetas - todas em uma - são frequententemente sentidas intensamente, mas por enquanto apenas implícitas.² A primeira regra é que nós respondemos ao significado sentido (isso é muito para a consciência do indivíduo, mas é sentido e pode não ser conceitualmente claro).

Explicando o Significado Sentido

O cliente pode dizer algo como: “Ela não pretende olhar um apartamento aonde eu disse que deveria. Ela foi a todos outros lugares, exceto lá, e então nós não viveremos ali. ” Estas duas sentenças são perfeitamente claras. (“Você está com raiva porque ela não fez o que você pediu deliberadamente,” pode ser uma reflexão de tal sentimento.)

Podemos sempre assumir que a experiência do problema é mais complicada e que consequentemente o sentimento presente implicitamente envolve muito mais. Sim, existe raiva aqui, mas não apenas raiva. Raiva (qualquer emoção) não é algo de dentro, mas uma forma de sermos, interativamente. Nós nunca estamos apenas com raiva, estamos com raiva de. Experiência é um processo interativo (Gendlin, 1964). A situação da qual estamos com raiva, e que outras pessoas estão com raiva de, sempre envolve muito mais facetas específicas. “Raiva” é apenas um atalho etimológico para classificação bruta de sentimentos.

Em nosso exemplo, o terapeuta responde ao significado sentido e usa alguma palavra tais como “raiva”, ou “furioso”, ou “zangado”. Mas faz toda a diferença se o terapeuta, ao responder, aponta para uma sensação sentida que é realmente mais complexa. Não importa quão preciso e claro o que o paciente diz, possa ser, nós devemos sempre assumir e referir a uma sensação sentida concreta. Como experiencial, o cliente pode referir à mesma diretamente, e isto sempre envolve vários aspectos implícitos³ e reações complexas.


²alguns terapeutas podem insistir que as verdadeiras realidades com as quais trabalham são entidades dinâmicas. Eles considerariam a complexidade experiencial que a pessoa experimenta apenas como uma supra- estrutura.

Outros, eu mesmo, por exemplo, posso insistir no oposto: as dinâmicas são sempre nossas (frequentemente excelentes) generalizações do que realmente existe apenas como a complexidade experiencial detalhada.

Não é necessário ponderar este assunto até este momento, no quanto a prática se preocupa, desde que, independente do nosso ponto de vista, permaneça o fato de que empregamos conhecimento dinâmico para entender e sensibilizarmo-nos para o indivíduo, uma vez que com ele devemos “trabalhar através” da dificuldade de forma experiencial concreta, o único jeito no qual ele pode sentir e trabalhar com isto.

Talvez a única diferença real, é que a psicanálise a considera valiosa para ensinar ao paciente primeiramente as generalizações, para que então ele possa procurar por suas próprias versões experiências concretas. Em contraste, terapeutas experienciais veem isso como uma “intelectualização” e tirar o indivíduo do trilho de seu foco experiencial, que por si só tem valor. O indivíduo pode produzir suas próprias generalizações conceituais diretamente a partir de seu processo experiencial, e estes são mais específicos e melhor adequados para cada indivíduo.

³O que eu chamo de “implícito” poderia ser conceituado pela psicanálise como “reprimido” ou “subconsciente”, mas eles poderiam adicionar que ansiedade sentida ou desconforto complexo indicam que o reprimido está fechado para a superfície e pode estar a ponto de emergir. É apenas para tal “inconsciente” que importa que estejam “a ponto de emergir” que interpretações psicanalíticas efetivas podem ser dadas. Fenichel disse:

“Desde que interpretação signifique ajudar algo inconsciente a se tornar consciente por sua nomeação no momento em que ele está se esforçando para eclodir, interpretações efetivas podem ser dadas apenas em um ponto específico, a saber, aonde o interesse imediato do paciente é momentaneamente centrado” (op. cit., p. 25).


Se a resposta do terapeuta aponta para a experiência implicitamente complexa, é  muito mais fácil para o cliente continuar a sentir e pesquisar o que ele está enfrentando. Ele pode dizer precocemente: “E é isto que realmente me deixa nervoso sobre tudo isto; ela está me ignorando. Eu vejo agora que eu não estou tão nervoso sobre não morar aonde eu queria, porém, mais com sua forma de ignorar o meu pedido.” Qualquer que seja a próxima resposta do terapeuta, seria conveniente ter consciência que existe mais, implicitamente presente. Ele pode esperar que mais facetas possam vir à tona sobre a carência de ser amado, ou talvez, o entendimento ao invés de ser ignorado, ou talvez sentimentos novos e antigos de ser machucado. Então, novamente, talvez nenhuma destas facetas surgirá, mas ao invés disso,  algo sobre o cliente ter desistido prematuramente e assumido que não poderia de maneira alguma fazer cumprir seus desejos. Se sua esposa não olhou aonde ele queria, então eles não morariam lá. Talvez ele desista muito rapidamente; ou talvez ele não tente compelir seus desejos porque qualquer coisa que você force alguém a fazer não se considera amor ou entendimento.

As respostas experienciais do terapeuta chamam a atenção do cliente diretamente  para seu próprio significado sentido. O terapeuta apenas ajuda. Apenas quando o cliente “foca” em seu significado sentido, ele pode mudar, e somente a partir dele podem emergir novas facetas.4 Alguns indivíduos vêm para a psicoterapia com uma grande habilidade de engajar nessa “Focalização” experiencial (Gendlin, 1980), enquanto que com outros o terapeuta deve se esforçar para chamar sua atenção repetidamente para a sensação sentida que eles tem concretamente. Algumas vezes o cliente age como se ele não tivesse ideia de que ele tem acesso a qualquer coisa, a não ser às suas palavras. Todavia, o terapeuta deve presumir e imaginar que o cliente tem uma sensação sentida direta de toda complexidade do problema, e a resposta deve apontar para tal significado sentido. Se necessário, o terapeuta pode imaginar para o cliente, muitas direções gerais para os quais as explicações adicionais do cliente possam levá-lo, mas estes são apenas exemplos do que o cliente pode encontrar se ele prestar atenção ao significado sentido. O terapeuta tentará estas direções de uma forma na qual elas deem apenas um pequeno passo adicional a partir do que o cliente diz. Todas estas respostas têm o objetivo de convidar o cliente a ver por ele mesmo o que realmente estará para ele, se prestar atenção ao que ele pode sentir concretamente. Por outro lado, se o cliente já “foca” diretamente nos significados sentidos de sua experiência, o terapeuta deve seguir respondendo exatamente (apesar de algumas vezes mais explicitamente) ao significado sentido no qual o cliente está focando.

O termo “focalizar” se assemelha com “olhar para” um dado sentido. Realmente é um processo no qual o focalizador e o dado são um, e ambos mudam, à medida que a focalização está em andamento. Não se pode prestar atenção a um sentimento sem, com isso, senti-lo de uma maneira que não ocorria momentos antes. “Focar em” é também um “sentir além”, que explica o que é sentido.

Uma segunda regra: Nós tentamos explicar o significado sentido para que novas facetas surjam concretamente dele.


4Desta maneira, enquanto a teoria psicanalítica do inconsciente difere de várias formas da teoria centrada no cliente, este inconsciente ao qual uma interpretação efetiva refere é exatamente o que eu denomino “significado sentido implícito.”

Assim, a reflexão centrada no cliente e a interpretação psicanalítica são bastante similares, quando executadas efetivamente. Por outro lado, quando realizadas de maneira precária, elas diferem: a interpretação psicanalítica realizada precariamente tende a induzir o paciente a uma intelectualização e afastá-lo de suas preocupações concretas, enquanto que a reflexão centrada no cliente realizada pobremente tende a repetir o que o cliente disse.

‘Na psicanálise, “associação livre” pode ser concretamente similar ao acima, mas não é sempre assim. Dois usos da associação livre existem na prática psicanalítica: Em um uso, a associação livre consiste no paciente expressar associações até que o analista note algo que possa ser interpretado. O analista então o interpreta, frequentemente sem efeito. Existe pouco aqui que seja experiencial para o paciente. O que é interpretado existe primariamente como uma conexão inferida sobre a qual o analista pensa.

Um segundo uso da associação livre corresponde muito mais a um processo experiencial delineado acima, e é também muito mais exatamente o que Freud pretendia. Neste uso, o paciente associa livremente até que ele colide em uma barreira. O paciente sente esta barreira bem concretamente, mas é incapaz de explicar o que é. O analista então aponta esta interpretação diretamente a percepção concreta, experiencial do bloqueio sentido presentemente.


Sensibilidade: Experimentando direções para um avanço experiencial

Que os significados sentidos sejam implicitamente complexos é bem sabido, mas o que geralmente se diz é que apenas o terapeuta deve ser “sensível”, deve “ouvir com um terceiro ouvido,” e ouvir todas essas facetas para que possa ajudar o cliente a se tornar consciente delas. Contudo, ao solicitar aos terapeutas que sejam “sensíveis”, nós não lhes dizemos realmente como isto é feito.

Todos desejam ser sensíveis, mas e se ele não for? O que ele pode fazer para ser sensível? A sensibilidade “simplesmente aparece para a gente”? Não; eu me proponho dizer como esta resposta “sensível” é feita. Na verdade, é feita experiencialmente, qualquer que seja a teoria.

Em primeiro lugar, vamos admitir que estamos frequentemente equivocados quanto ao que esperamos que o cliente nos traga. Frequentemente erramos de um momento para o outro, e às vezes também de um mês para o outro. Nenhuma sensibilidade de “raio-x” está realmente envolvida. Nem o segredo está em uma dinâmica brilhante ou um raciocínio perspicaz. Isto usualmente nos dá muitas direções, não apenas uma. Se experimentarmos uma direção bem gentilmente, o que quer que surja, geralmente nos dá uma compreensão maior, diferente e mais detalhada. Podemos experimentar diversas direções ou expectativas variadas, com base em pensamentos diferentes. Estes pensamentos nos ocorrem de uma forma rápida e superficial, à medida em que praticamos. Desta forma, raramente temos uma sensibilidade raio-x, única e clara, seja intuitiva ou dinâmica.

Sabendo que a percepção de sentido concreta do cliente é sempre complexa e implicitamente cheia de várias facetas, tentamos isto ou aquilo, e frequentemente nada acontece - nenhum efeito experiencial. Ocasionalmente, algo realmente acontece: o cliente é capaz de sentir mais intensamente, ou de formular mais ou menos claramente o que ele de fato sente. A pessoa sente o “saber mais claramente.”

Uma terceira regra: Tentamos várias direções provisórias para um avanço experiencial. Desta forma, o terapeuta auxilia a explicação do cliente experimentando várias direções até que o cliente perceba que está experimentando mais. Por “mais” queremos dizer novas facetas relevantes, ou um sentimento mais claro.

Permanecendo no caminho experiencial

Se o terapeuta vai tentar várias direções (frequentemente erradas), ele deve saber o que fazer (a) se o cliente reagir de alguma forma importante, e (b) se o cliente não tiver nenhuma reação experiencial ao que o terapeuta disse. Sensibilidade não é de fato uma fonte mágica para resposta correta do terapeuta; antes, consiste em observar cuidadosamente a próxima reação do cliente ao que o terapeuta diz.

Apesar do que a resposta do terapeuta tenha provocado no cliente possa não ser nada parecido com o que o terapeuta esperava, ele agora vai responder a isso. O segredo da sensibilidade não está em saber o que dizer, mas em orientar-se para responder a reação subsequente. Não importa quão relativamente obtuso ou errado seja algo que o terapeuta esteja prestes a dizer, ele pode dizê-lo, se então responder, perguntar, e procurar compreender a reação experiencial resultante do cliente.

Por outro lado, se a resposta do terapeuta se mostra meramente irrelevante, o terapeuta deve saber como retornar o cliente ao seu próprio caminho experiencial. É  importante que o cliente não pense que deve discutir e buscar algo irrelevante apenas porque o terapeuta o trouxe à tona. Por exemplo, se o cliente me responde: “Sim, isto deve ser verdade... ah...” eu sei que minha resposta não é boa. As pessoas quando dizem que algo

deve ser verdade, ou seja, se tiverem que deduzir, não o sentem diretamente. O “ah” também indica que não há para onde ir com o que eu disse. Agora eu respondo, “Isso soa de alguma forma, certo para você, mas não é o que você sente exatamente agora.” E eu dessa forma convido-o a prestar atenção, mais uma vez, ao que sente de fato, para que não se prenda à minha resposta inútil.

O propósito das respostas do terapeuta não é ser correta; As respostas do terapeuta visam levar os clientes á experienciar mais. Isto pode ser feito tão bem na segunda oportunidade como na primeira.

Nossa quarta regra é: Nós seguimos o caminho experiencial do cliente. Referência

Experiencial: Nosso objetivo de Respostas

Em uma descrição muito simples, que foi dada há pouco, uma quinta regra já está implícita. Nossas respostas apontam para a sensação sentida de tudo que o cliente experiencia agora. A resposta em si pode se mostrar errada ou irrelevante, mas isto não é tão importante quanto seu objetivo. Uma resposta terapêutica sempre visa à sensação diretamente sentida pelo cliente sobre o que ele está falando. Este objetivo é o que torna uma “reposta experiencial”. Este objetivo também implica que apenas a reação experiencial do cliente é o indicador básico do que é válido. Minha resposta pode ser verdadeira, sábia e precisa, mas é inútil5 se perder seu objetivo principal, que é apontar para a sensação diretamente sentida pelo cliente de tudo o que ele esta enfrentando.

Podemos sempre imaginar uma sensação sentida experiencial de um “tudo isso” mais complexo (mesmo que o cliente tenha afirmado algo bem específico), e nos imaginarmos na busca de responder ao todo mais amplo. Fazemos isso entendendo especificamente o que ele diz, porque sem tal entendimento específico, a pessoa não chega mais profundamente na sensação sentida de todo  problema. Desta forma, devemos compreender exata e especificamente, tudo que ele diz como ele pretendia dizê-lo. Tomando todas as facetas altamente específicas que o cliente pode verbalizar, ainda imaginamos que até mesmo toda essa especificidade nos diz, nada mais que uma instância, um aspecto do problema, que ele agora explica, à medida que sente diretamente toda a complexidade implícita.

É possível responder “experiencialmente” apenas porque um significado sentido (um sentido concretamente de “tudo isto”) pode conter várias facetas implícitas, enquanto algo que alguém diz é sempre algo limitado. Todo tecido dinâmico que uma teoria pode inferir está implicitamente aqui, nesta sensação sentida diretamente pelo indivíduo à medida que ele fala e diz essas coisas limitadas; mas é sentido, não conhecido. É sentido de uma forma incompleta, incipiente. Expressar tudo isto em palavras seria ter de lidar com isso. O seu problema é que ele não pode. Consequentemente, para ter sucesso de fato (por um período de tempo) em diferenciar e explicá-lo verbalmente e interativamente, requer experienciar mais do que ele pode fazer agora. Isso é resolver o problema.


5Psicanalistas argumentariam que algumas interpretações que não produzem resultado na hora são para ser levadas para casa pelo paciente e trabalhados, como uma “lição de casa”. É verdade que isto ocorre com frequência na psicanálise, mas não significa que o terapeuta falhou em ajudar o paciente a trabalhar a questão? Se o cliente não pôde fazê-lo com o terapeuta, é provável que ele seja capaz de fazê-lo realmente, sozinho?


Portanto, quando nossas respostas apontam para a sensação sentida do cliente sobre o problema, e quando respondemos da forma mais exata possível para afirmar mais explicitamente o que ele explicou, nós o ajudamos a sentir mais, e assim por diante, para se tornar capaz de estar mais consciente. Quando respondemos apontando explicitamente para o que ele agora pode sentir concretamente, ele se torna capaz de sentir, e portanto, capaz de explicar ainda mais.6

A quinta regra é: Objetivo das Respostas. A resposta deve apontar exatamente para aquela sensação que o cliente experiencia agora. Nosso objetivo é apenas aquela sensação sentida, aquela que ele tem à medida que se esforça para tornar o que diz, o mais claro e específico possível.

Avançando

Uma resposta experiencial aponta e chama atenção do cliente para sua experiência sentida, de modo que sua experiência sentida avança desta forma. Portanto, uma das  melhores reações possíveis do cliente ao que o terapeuta diz é: “Não, de forma alguma, não é desta maneira; é mais parecido com...” Frequentemente, dizer sobre como eu acho que “é”, possibilita que o cliente diga muito mais exatamente como realmente é. E é isso que desejo, pois minha resposta não é uma afirmação factual que busca ser verdade, mas uma afirmação que busca esclarecer e ajudar a levar adiante o que ele sente.

Quando um indivíduo tem um problema, ele fica parcialmente confuso e paralisado. Para esclarecer o que está errado, ele deve definir melhor suas reações e situações. Sem definir melhor, ele não pode “esclarecer” de forma alguma! Assim, nem tudo que o indivíduo diz agora já estava nele, completo, antes de ele dizer. O que procuramos fazer com a resposta terapêutica não é, de forma alguma, uma mera descoberta ou explicação de fatos. Ao invés disso, nós buscamos aquele tipo de esclarecimento que envolve mais e mais viver e sentir, do que o indivíduo era capaz de fazer quando estava paralisado ou sofrendo.

Uma sexta regra é: Tentamos levar a experiência a diante. Avançar. O explicar traz à tona um novo experienciar, que até então, não havia sido possível.

“Avançar” guia o Terapeuta, e não Vice-Versa

Não procuramos nenhum “mais” antigo, apenas aquele “mais” que resolverá ou esclarecerá aquilo que estava emperrado, impossível ou confuso. Como podemos saber o que é isso? Novamente, apenas através da reação experiencial real do cliente. Desta forma, nossas respostas devem ser guiadas pela reação momento a momento do cliente, não apenas para descobrir quando o que dizemos é válido, mas abrir um caminho em que ele possa se mover, para estabelecer uma direção terapêutica. 7Isto é demonstrado pela direção de novos fragmentos de experiência sentidos pelo cliente (e, portanto, pela definição e interpretação claras), que antes eram impossíveis para ele na situação.


7A formulação psicanalítica do trecho acima seria: À medida que respondemos ao que está no pré-consciente, mais e mais material emerge para o pré-consciente a partir do inconsciente. Contudo, não parece ser preciso o termo ‘pré- consciente’ algo que está muito diretamente sentido na consciência, frequentemente doloroso inclusive, apesar de não ser conceitualmente esclarecido e consiste apenas de reações incipientes inibidas. Denominar este ‘pré-consciente’ formula-o como se o processo já tivesse acontecido realmente, mas de uma forma oculta, quando de fato ele não ocorreu completamente ainda.

Intelectualmente, alguém pode afirmar com frequência (o cliente pode, ou o terapeuta pode) o que é o problema do cliente, porque é, qual sua etiologia, experiência passada, participações de outros ou do cliente. Alguém pode até especificar quais seriam as soluções para qualquer outro em tal apuro, apesar, é claro que se, tais pessoas poderiam aproveitar-se destas soluções, não se encontrariam, elas próprias em tais apuros de qualquer maneira. Alguém descobre que estas soluções não funcionam para este cliente. Mediante o passado do indivíduo e o tipo de inabilidades emocional e interativa que ele tem, nós podemos frequentemente ver porque nenhuma solução pensável para ele existe, porque ele deve de fato estar e permanecer da forma como está. E desta forma você tem o ponto final de uma abordagem puramente intelectual. E agora?

O ‘esclarecimento’ puramente intelectual do problema de personalidade do cliente falha quando não avança além de seus sentimentos, seu processo experiencial. Uma mera descoberta de fato não muda nada. Em medicina (como no reparo de carros), o diagnóstico e a cura são duas fases separadas. Primeiro, a pessoa deve saber o que está errado, e então ela pode decidir o que fazer. Com a mudança de personalidade, contudo, esta distinção das duas fases não se aplica. Se o processo de esclarecimento por si mesmo não tiver alterado o cliente, não podemos deduzir nada a partir do que aprendemos que possa ajudá-lo. O melhor que podemos fazer, quando chegamos a este ponto de impasse (sabendo de tudo, mas não tendo mudado nada) é convidar o cliente a explorar mais, para ir novamente ao que ambos já sabemos, esperando que esta projeção envolva sua vida sentimental, para avançar e desta forma resolver algo, para fazer o que a psicanálise pode ‘trabalhar’.

A abordagem experiencial pode também ser vista como oferta de um método sistemático para o qual termos psicanalíticos denominam o ‘trabalho através’ do processo, algo notada e raramente discutido de forma sistemática na literatura psicanalítica. O terapeuta pode sentir que ele sabe a direção geral integral da terapia, mas os passos específicos do “trabalho” não são conhecidos por ele antecipadamente e não pode ser intelectualmente determinado. Ambos, cliente e terapeuta, devem seguir aonde os passos experienciais levam, o que o cliente realmente sente quando eles ocorrem. Ambos podem ser surpreendidos pelas voltas pelas quais estes passos levam, e por uma eventual resolução.

Até se o terapeuta está preocupado que o cliente alcance certos resultados, ele deve estar preparado para sustentar que, passos experienciais, por algum tempo, irão para uma direção bem diferente da que ele gostaria. Se ele pode seguir aonde os passos experienciais vão, então um ou outro objetivo que ele previu afinal é alcançado (apesar de muitas voltas na direção), ou, se a resolução do resultado o surpreende, o terapeuta aprende bem convincentemente que a resolução muito diferente daquela esperada, é possível. (Gendlin, 1967).

Um terapeuta que se recusa a seguir onde os passos experienciais do cliente o levam usualmente, impede seu cliente de engajar em um processo de resolução genuína. Isto não é para dizer que a presença do terapeuta e as respostas como outrem, não afetem o cliente. Pelo contrário, a resolução não poderia ocorrer sem o fato de que, explicar com e expressamente para esta pessoa, é um tipo muito diferente de processo de pensar ou sentir por si mesmo. Estas atitudes e capacidade de resposta do terapeuta afetam fundamentalmente o que o cliente encontra, porém, à medida que isto emerge experiencialmente, ambas as pessoas devem seguir os passos concretos que ocorrem e são diretamente sentidos.


Por conseguinte, uma sétima regra: Apenas o indivíduo sabe seu caminho; nós seguimos sua sensação de seu caminho experiencial. Mas como nossa resposta pode ser

guiada para a percepção que o cliente tem da sua experiência, quando ao mesmo tempo eu  também disse que o que nós procuramos não está tudo ali, isto não é uma contradição? Por um lado, eu digo que apenas as experiências dos clientes podem guiar o terapeuta, e por outro lado eu digo que esclarecimento genuíno é sempre em parte, uma nova definição e uma nova experiência.

Qualquer coisa não pode ser definida de milhares de formas diferentes? Como escolher a direção? A resposta está no fato de que procuramos não apenas qualquer maneira de definir e experimentar mais profundamente, mas apenas aquela maneira pela qual ocorrem pequenas resoluções experienciais daquilo que antes era sentido como tão emperrado, confuso e insuportável.

Movimento referente: “A Sensação Entregue”

Agora, devemos examinar mais detidamente o modo como reconhecemos quando um pouco de resolução experiencial ou esclarecimento ocorre naquilo que o indivíduo sente como um problema. Como podemos saber quando ele avança? Qualquer nova experiência é um “avançar”? Não, não é. Por “avançar” sempre queremos dizer somente aquilo a respeito do qual ele estava antes sentindo preso, parado, intrigado, confuso, inibido, incapaz de seguir em frente de uma forma que parecesse tudo certo, adequado ou suportável.

Quando o “experienciar” avança, existe um sentimento muito distinto e inconfundível  de “entrega”, alívio, vivificante, liberador. Eu chamo isso de “movimento referente” porque há movimento sentido no referente direto. Ele pode surgir às vezes quando algo parece solucionado ou resolvido, mas também quando um sentimento se torna mais claro, ou quando alguma nova faceta emerge.

O indivíduo tem certa sensação sentida incômoda, porém obscura, a respeito do que discute. Muitas vezes ele explica, descreve eventos, entende origens, inventa como ele gostaria que fosse, diz muito do que é verdadeiro e sensato - e, no entanto, nada é concretamente mudado. Sua sensação sentida após toda a conversa e esforço, está  do mesmo jeito que estava antes. Nenhum “movimento referente” ocorreu. Não houve um efeito experiencial.

Em contraste, é inconfundivelmente diferente quando ocorre até mesmo o menor sinal de sensação “entregue” ou “movimento referente”. Pode parecer apenas como se isso simplesmente indicasse a verdade de tudo que acabou de ter sido dito; mas à medida que ele continua a explorar os seus significados experiencialmente sentidos, tudo agora fica um pouco diferente. Surgem novas facetas. Muito do que parecia relevante antes, agora, de repente, não vem ao caso. A pequena sensação de “soltar” agora se revela um passo real. Ele novamente

se refere diretamente a uma sensação sentida de todo o problema de que está falando, mas este referente sentido está agora suavemente alterado.

A faceta recém-emergente pode parecer não resolver nada, pode ser pior do que qualquer coisa que o indivíduo esperava. Ele pode dizer “Que coisa horrível! Agora eu realmente não sei o que fazer.” Mas se isso é um aspecto que emerge genuinamente de sua sensação sentida do que ele esta enfrentando, se é um aspecto que emerge genuinamente do seu experienciar, então ele sente aquela “entrega” distinta, uma mudança sentida, um efeito experiencial que eu chamo “movimento referente” (Gendlin, 1964).

Após um movimento do referente sentido, tudo fica leve e ligeiramente alterado, e geralmente surge uma nova verbalização.

Nossa oitava regra é: Apenas o movimento referente é progresso. (A direção na qual o processo deve seguir é indicado pela “entrega experiencial" diretamente sentida pelo cliente ou “movimento referente.”)

O Uso Experiencial de Conceitos

Teoricamente inferimos (veja também Gendlin, 1962, 1964) que “Tomar consciência” de algo de que antes era incapaz de estar consciente, sempre envolve primeira ou simultaneamente experienciar mais a sensação. Também inferimos que qualquer condição “obstrutiva” ou problema, carrega em si, implicitamente, as direções para sua própria solução positiva, mesmo que esta solução deva ser criada e não possa simplesmente ser “encontrada”. Portanto, um terapeuta deve prestar bastante atenção aos possíveis aspectos positivos incipientes em comportamentos e sentimentos negativos desajustados. Experienciar uma sensação é sentir-se completamente vivo, e como animais nós permanecemos vivos apenas porque nossos corpos animais são organizados em sistemas biológicos de manutenção da vida. Qualquer animal humano é amplamente elaborado pela cultura e pelo aprendizado individual, e com estas elaborações o corpo tende a se manter organizado. (Se não, nós sucumbiríamos bem cedo). Dado nosso elaborado aprendizado do que podemos ou não podemos fazer, uma situação pode facilmente se tornar uma “situação impossível” para nós, na qual podemos não encontrar uma maneira de interpretar ou agir que se sinta preservando a vida. Mas a impossibilidade do problema em si é composta de tendências positivas e evasões do que mantêm a vida.5 Quando novas formas de interpretação que são úteis para o indivíduo são descobertas, elas são claramente marcadas porque permitem que um pouco do experienciar a mais ocorra, e isto é sempre libertador e “faz sentir bem”, até mesmo se a pessoa também sente-se “mal” sobre o muito que é recentemente visível após um pequeno passo experiencial adicional.

Nem é preciso dizer que estes “passos” e “experienciar mais” não podem ser deduzidos logicamente. Nenhum de nossos conceitos teóricos é proximamente específico e complexo suficiente para sequer chegar perto das facetas que sentimos. Lógica e teoria meramente reconstroem alguns aspectos da experiência em um padrão geral. Após a resolução de algum impedimento experiencial, podemos sempre explicar o que aconteceu. Nós podemos explicá-lo em algumas frases curtas ou elaboradamente em uma longa novela. Mas durante este processo de resolução, em terapia, nossos conceitos teóricos são apenas ferramentas que apontam e, desta forma, ajudam a referenciar a experiência e, assim, avançar. Isto não quer dizer que nossos conceitos sejam, em qualquer sentido, inúteis ou sem importância. Quanto melhor e mais precisamente pudermos usar os conceitos (seja qual for o que usarmos), melhor poderemos apontar e ajudar a avançar a experiência do cliente.

A nona regra é: A terapia requer o uso experiencial de conceitos. Em terapia, nossas palavras e conceitos deveriam ser usados não apenas factual e logicamente, mas experiencialmente, para apontar para uma experiência sentida.

Talvez o mais importante, o uso experiencial de conceitos envolve, não passos lógicos, mas passos experienciais. A diferença crucial é que se desenvolvemos um conceito experiencialmente, pretendemos que ele aponte para o que é sentido, e quaisquer novas facetas que possa surgir. Se estas novas facetas não se encaixarem em nossa ideia não ficaremos surpresos. Nós apenas os usamos para nos ajudar a apontar. As novas facetas podem agora nos gerar uma ideia diferente, que não se encaixa de forma alguma com a anterior. Se tivermos bastante tempo, nós podemos tentar reconciliar as duas em uma forma teórica, mas geralmente não dispomos de tempo para isso na terapia em andamento. Certamente existe uma continuidade, e ela pode ser explicitada. Não estávamos errados anteriormente, pelo menos não de toda maneira, pois o que dissemos ou pensamos nos ajudou a chegar a isso, agora. Mas iremos agora usar o somatório de nosso conhecimento teórico, diagnóstico e inter-humano para compreender este novo momento, essas novas facetas. Algo bem contraditório para as implicações anteriores pode ser agora o que pensamos e dizemos em seguida. O passo experiencial está entre a última concepção e esta. Não é apenas uma sequência lógica de um para outro.9


9 A forma psicanalítica de formular isto é: A energia que mantêm a repressão vem do próprio reprimido. Esta afirmação significa que a energia que agora previne a liberação que a pessoa procura na psicoterapia, é na verdade a energia daquilo que ela procura liberar.

Foi a descoberta central de Rogers (1951) de que a “resistência” poderia ser neutralizada se o terapeuta respondesse com, ao invés de contra, os desejos, percepções e necessidades de autoproteção sentidos pelos cliente; isto é, o cliente prontamente se move através de passos pelos quais o “reprimido” emerge (Rogers denominou como “negação da consciência”) em seu caráter positivo ou mantenedor da vida, mesmo se isto começasse por ser extremamente negativo ou autoprotetor. Mas esta mudança requer que o terapeuta responda à intenção sentida verdadeira do cliente, e não em termos de uma avaliação externa.

A versão psicanalítica deste fato básico soa extremamente diferente, como se fosse apenas uma afirmação teórica da fonte de energia. Por outro lado, a formulação de Rogers (“fé” no indivíduo; “princípio de crescimento,” “autorrealização”) deu a este fato um molde aparentemente idealístico e otimista. A formulação experiencial não apenas esclarece isto como um aspecto de organização básica de qualquer coisa viva, mas mostra também porque a simbolização completa de um problema é possível apenas como a experiência adicional. As tendências bloqueadas em direção a esta experiência adicional, culturalmente elaboradas até o ponto de conflito, e não elaboradas além da resolução, constituem o problema em primeiro lugar.


Os terapeutas às vezes têm dificuldade em aprender este uso experiencial de conceitos. Um jeito fácil de transmitir o que é isso, é virar o jogo: Que tipo de uso de conceitos você deseja que o cliente use? Você deseja que ele converse contigo apenas conceitualmente,

teoricamente, indo de um passo a outro por simples implicações factuais e lógicas? Não. Você quer que ele use seus conceitos, não por seus interesses conceituais e implicações lógicas, mas como indicadores para expressões de sua vida afetiva e interativa. Muito bem, e é exatamente assim que qualquer pessoa que o ajude a fazer isso deve usar seus conceitos.

Você não se importa que seu cliente fale de política, religião ou teoria psicológica, desde que o que ele diz, esteja realmente apontando, e intencionalmente vinculado a seu próprio esforço em esclarecer e ir além de suas reações e sentimentos problemáticos. Se esta for a referência direta de suas conversas, estes tópicos abstratos forem apenas veículos para expressar seus significados emocionais, então essa conversa pode ser terapêutica. Mas se ele toma estes conceitos por seu valor de face, e não como um apontamento para suas próprias facetas experiencias, então a terapia está paralisada e ele está “intelectualizando”. A mesma condição se aplica ao uso de conceitos pelo terapeuta. Qualquer que seja a teoria da qual os conceitos se originem, se eles são usados experiencialmente, à medida que o cliente procura um “avanço” experiencial, então eles podem ajudar. Mas, é claro, isto significa que eles devem ser guiados e alterados pelas facetas concretas mais próximas que se desenvolvem.

9O uso experiencial de conceitos também tem sido ilustrado nestas notas de rodapé no que concerne a psicanálise: Quando eu digo, nestas notas de rodapé, que alguma formulação centrada no cliente poderia ser afirmada psicanaliticamente, eu não quis dizer que estas duas formulações fossem de fato idênticas ou uma reduzível à outra. Ao contrário, estou a par das enormes diferenças em cada termo e suas implicações teóricas, mas são exatamente estas últimas que o uso experiencial dos conceitos me permite arquivar. Eu posso usar estes conceitos teoricamente diferentes em suas referências experienciais, que elas também têm. Então eu descubro que sua referência experiencial é a mesma!

Por exemplo, à parte da teoria, o que é o termo “transferência dinâmica” concretamente? O que, ocorre na prática a que ela se refere? Isto é quase o mesmo que concretamente referido pelo meu termo bastante diferente, “movimento referente”.

Usar conceitos desta maneira requer de boa vontade o arquivamento de suas contradições teóricas e empregar apenas sua referência experiencial. Significa mover de um passo de pensamento ao próximo através do que cada conceito experiencialmente se refere a, e através de qualquer coisa que fazemos daquilo (como nós diferenciamos aquele adicional), mais do que mover apenas ao longo das implicações teóricas. Isto é um uso experiencial de conceitos, que na teoria da experiência (Gendlin, 1962a, 1962b, 1966) se desenvolveu como método de pensamento.

Profundidade Experiencial

Um significado de profundidade (o que nego ter qualquer utilidade em psicoterapia) é a “profundidade” das implicações teóricas generalizadas. Vamos traçar isto em um diagrama ao longo de um eixo “X” horizontalmente. A partir de um dado ponto no qual o cliente agora sente, nós, diagnosticadores, podemos nos afastar para deduzir muitos outros traços e formas deste cliente. Se ele é o que ele agora diz, então é provável que também seja deste ou daquele outro jeito. Assim, podemos mover para esquerda ou para direita no meu diagrama e dizer todo tipo de coisas (talvez bastante corretas) sobre ele. Isto geralmente distrai o cliente, se ele estava prestes a aprofundar no que sente agora.10

Existe outra dimensão, contudo, mais verdadeiramente denominada “profundidade”. Nós o traçamos ao longo do eixo “Y” do diagrama. É a profundidade para dentro do ponto no qual ele agora está e sente. Ao longo desta dimensão ele (e nós) podemos dizer mais e mais e mais, mas sempre exatamente (sempre mais e mais exatamente) explicativo justamente desse sentimento que ele tem agora (já que dessa forma ele muda).

O que então, distingue “profundidade” ao longo do eixo “Y”? O que será pertinente à experiência sentida presente do indivíduo? Como uma pessoa pode dizer o que está realmente “dentro” disto, e o que não está? A resposta é apenas por meio de uma série de passos experienciais. Profundidade experiencial pode produzir facetas, que soam muito como nossas deduções teóricas soariam, ou pode produzir então facetas que nós nunca poderíamos ter produzido por nós mesmos. Seja o que for, nós não podemos dar os passos experiencialmente concretos de outra pessoa. Até mesmo quando temos sorte e respondemos perfeitamente de forma a ajudar a avançar em sua experiência, o que conta não é a resposta em si que produzimos, mas seu movimento concreto.

Portanto, a décima regra é: “Profundidade” está dentro do objetivo, não afastado dele.

Eu posso agora resumir os princípios da resposta experiencial da qual discorri até agora:

  1. Respondemos ao significado sentido.
  2. Tentamos explicar o significado sentido.
  3. Tentamos várias direções para um avanço experiencial.
  4. Tentamos seguir um caminho experiencial.
  5. Objetivo das respostas
  6. Tentamos avançar a experiência.
  7. Apenas o indivíduo conhece seu caminho: vamos por sua sensação de seu caminho.
  8. Apenas o movimento referente é progresso.
  9. Terapia requer o uso experiencial de conceitos.
  10. Profundidade está em direção ao objetivo, não afastado dele.

 

10 Na utilização das palavras, centrada no cliente, “interpretação” significa uma má resposta. O termo se refere aquele tipo de resposta que introduz intelectualmente ou diagnosticamente material relevante que na verdade move o cliente para longe de seu caminho experiencial e em direção à intelectualização. Então para não se tornar comprometido por mera terminologia, eu escolhi escrever este capítulo no nosso conceito do mais efetivo tipo de resposta terapêutica. Eu tomo isso como sendo o tópico ao qual este título gancho se refere.

 

“Interpretação” em nossa utilização se refere ao que é definido pelo eixo “X” no diagrama acima. Nós procuramos evitá-lo. Eu suponho que psicanalistas eficientes também procuram evitá-lo, como as citações prévias de Fenichel demonstraram.

Interação Experiencial

Muitas vezes, a melhor resposta pode surgir se nós, como terapeutas, prestamos atenção em como nós mesmos estamos nos sentindo e reagindo naquele momento. Existem várias razões para isto. Primeiro, o que o terapeuta diz tem apenas uma eficácia limitada. Sua presença pessoal e resposta interativa são mais poderosas. Vamos supor que não houvesse um terapeuta real, apenas suas palavras projetadas em uma parede à frente do cliente que as lê. Seria a terapia igualmente efetiva? Não, não seria (e mesmo assim, o cliente teria, com certeza, fortes sentimentos em relação à pessoa desconhecida, porém real, que está reagindo a ele e fazendo estas declarações). O fato de haver outra pessoa real é parte essencial da eficácia das respostas terapêuticas. A experiência presente do cliente é sempre concretamente com e em direção a outra pessoa real, mesmo se verbalmente ele pareça apenas explorar a si mesmo.

Em algum grau, o cliente pode avançar em sua experiência, mesmo quando ele está sozinho e responde a si mesmo, pensa sobre si mesmo, ou conversa silenciosamente consigo mesmo. Simplesmente externalizando em palavras o que sente, ele esclarece e avança em sua experiência. Se o cliente conversa consigo mesmo em voz alta, este efeito talvez possa ser ampliado. Ao fazê-lo em voz alta, ele tende menos a cair e se afundar numa divagação mental. Ao escrever as coisas pra si mesmo, ele pode maximizar isso ainda mais. Se ele fala em um gravador e reproduz, um efeito será ainda mais forte. A maioria das pessoas, ao ouvir pela primeira vez suas vozes tocadas novamente, ficam surpresas e constrangidas porque ouvem aspectos de si mesmas que normalmente não ouvem. Como é possível para eles “ouvir” na voz gravada o que lhes falham em ouvir enquanto conversam? Experienciar é basicamente interacional. Ouvir a voz do gravador é perceber os efeitos externos ambientais de aspectos  nossos que geralmente nunca recebem feedback.

Mas sem feedback não existe o processo de interação (sem cadeia de reação, efeito, e reação a isto) e desta forma geralmente apenas a condição implícita e dolorosamente inibida; não há experiência de fato. Assim, efeitos ambientais avançam a experiência. Contudo, muito mais poderoso a esse respeito é uma outra pessoa real que responde não apenas como um gravador, mas que é ela própria outra dimensão ao longo do qual as reações incipientes do cliente são avançadas, para dentro em interações vividas com um ambiente.

A resposta do terapeuta se encaixa na lista acima de interações ambientais apenas se ele responde ao cliente. Como terapeuta, geralmente posso apontar a diferença entre minhas reações sentidas, que são realmente irrelevantes dos meus próprios problemas pessoais, emcontraste com aquelas que são relevantes para a nossa interação aqui. Se o meu sentimento é relevante para o que estamos fazendo agora, então eu devo responder a partir dele.

Minhas reações são parte de nossa interação. Eu devo ao cliente avançar naquela parte de nossa interação que agora está ocorrendo em mim. Se eu não o faço, ambos ficaremos estagnados a esse respeito. É claro, sou responsável por como eu respondo. Isto significa que devo responder de maneira a oferecer minha reação honestamente de volta a ele, tornando-a visível, agindo de forma que ele possa tornar a responder àquilo em mim que ele desencadeou.

Desta forma, não vou simplesmente “atuar” na terapia; ou pelo menos não irei fazer apenas isso, mas também irei avançar meus próprios sentimentos em mim, para deixá-los se tornarem mais plenamente o que são, já que a princípio muitas vezes eles são apenas incipientes. Não vou expressar minhas reações defensivas acobertadas, ou pelo menos (se eu achar que eu já as tenha feito), irei continuar a me expressar em voz alta até que o que está realmente acontecendo em mim seja visível.

É de pouca importância o quão bom, sábio, forte ou saudável o terapeuta é ou pareça. O que importa é que o terapeuta é outra pessoa humana que responde, e todo terapeuta pode ter certeza que sempre será dessa forma. Para ser assim, contudo, o terapeuta deve ser a pessoa para a qual as reações reais são visíveis de forma que a experiência dos clientes possa avançar por eles, de forma que o cliente possa reagir a elas. Somente um ser humano real e responsivo pode fornecer isto. Nenhum mero discernimento verbal pode.

O terapeuta deveria ser estável o suficiente para não ser destruído. Contudo, isso é geralmente é transmitido de forma mais verdadeira se ele for aberto sobre suas reações em vez de as encobrir. Quando o cliente sente que o terapeuta está encobrindo, o cliente não pode reagir claramente, nem pode dizer se o terapeuta aguentaria que o cliente reagisse a ele. Ao ser aberto, o terapeuta mostra facilmente que a extensão em que está incomodado, nervoso, ferido ou chateado é bastante suportável.

O terapeuta e suas reações não devem se tornar o foco central, entretanto. Como terapeuta, estou disposto a ser o foco por um curto período. Estou disposto a que percebamos e resolvamos minhas reações, se elas são parte do que juntos devemos ser capazes de avançar. Eu não acredito que eu deveria levar minha “contratransferência” pra fora no momento em que o cliente não possa vê-la e reagir à ela. Eu devo tornar disponível a ele, qualquer coisa em mim que diga respeito a ele. Mas o cliente continua sendo o centro. Eu torno possível que qualquer uma de minhas reações, seja explorada se isso for necessário, na medida em que sirva ao nosso propósito. Este propósito é explorar, esclarecer nossa interação e avançar, não obstrui-la com quaisquer novas complicações.

Muitos terapeutas questionaram esse aspecto da interação experiencial. Como isso é diferente da terapia para o terapeuta? Raras vezes e por alguns minutos, pode ser apenas  isso; mas a proposta é tornar meus sentimentos acessíveis de forma que o cliente possa se

mover livremente e além. Não é provável que fiquemos estagnados em mim: Assim que minha abertura avança a experiência do cliente, é provável que ele agora siga em frente, se eu não o impedir.

A maior parte dos clientes precisa de um longo período (meses) de resposta persistente do terapeuta para exatamente o que eles sentem, percebem e insinuam. Durante estes períodos o uso dos seus próprios sentimentos pelo terapeuta tem o propósito de sentir imaginativamente os significados sentidos pelo cliente. Mais reações pessoais do terapeuta na maioria das vezes só serão expressas muito raramente.

O que foi dito aqui não deveria ter efeito de impulsionar os terapeutas a se expressar muito frequente ou dramaticamente, quando o que o cliente precisa, é de ajuda para desenvolver um suave e lento processo de desenvolvimento de focalização experiencial.

O tipo de cliente que não está em nenhum caminho experiencial pode precisar de uma boa dose de expressividade do terapeuta (Gendlin, 1962) para que uma interação experiencial possa surgir primeiramente. Por outro lado, quando o cliente está perseguindo um processo experiencial de diferenciar e avançar sua percepção sentida de suas dificuldades, então um mínimo absoluto de interrupções pelo terapeuta nesse processo é o melhor. Então, é usualmente melhor para o terapeuta seguir gentil e precisamente, entendendo cada nuance e cada faceta principal, e não adicionando nada que possa tirar o cliente de seu caminho e levá- lo para uma linha de pensamento diferente e estranha.

O terapeuta mantem uma vigília especial para as suas próprias reações que são desconfortáveis (sentindo “in loco”, constrangido, impaciente ou de outra maneira incomodado). Quase sempre o terapeuta vai descobrir estas reações em si no momento em que ele já se comportou assim de forma a encobri-las, lidar com elas, suprimi-las, ou tentar fugir das mesmas. É natural que nós tendamos a “controlar” tais reações, e geralmente elas são leves o suficiente para tornar esse controle muito fácil. Todavia, elas contêm informação importante sobre o que está então acontecendo na interação.

É natural para o terapeuta se sentir um pouco incompetente ou mal ajustado consigo mesmo quando ele tem estas reações. Certamente tais reações envolverão frequentemente o que quer se seja incompetente ou mal ajustado nele, e nenhum humano vive sem tais aspectos. Mas ver apenas isto é perder um aspecto essencial da psicoterapia: Se o cliente for uma pessoa perturbada, ele possivelmente não pode deixar de despertar dificuldades em outra pessoa, com a qual se relaciona intimamente. Necessariamente, o terapeuta vai experienciar sua própria versão das dificuldades, falhas (excentricidades), dificuldades emocionais, os quais a interação deve ter. E apenas se elas ocorrerem a interação poderá ir além e então ser terapêutica para o cliente.11

Desta forma, sentimentos de dificuldades, de estagnação, de constrangimento, de ser manipulado em um ponto, de ressentimento, etc., são oportunidades essenciais para que a relação se torne terapêutica. Mas isto não pode acontecer se o terapeuta souber apenas como “controlar” estes sentimentos em si mesmo (isto é, enterrá-los, desviar atenção). É claro que ele pode controlá-los, ja que geralmente eles não são muito fortes. Pelo contrário, o terapeuta deve fazer um esforço extra para senti-los em si mesmo. Certamente ele deve (e geralmente pode facilmente) manter no controle de tais sentimentos e não ser arruinado ou indevidamente perturbado por eles; porém ele deve também vê-los como seu valioso senso concreto da dificuldade em andamento, o bloqueio emocional agora manifestado da interação e do processo experiencial do cliente.

Apenas muito mais tarde o terapeuta (e o cliente) pode ver clara e exatamente o que estava envolvido. Não se pode esperar compreender claramente qual é o problema enquanto ele o perturba. Como eu disse antes, compreender claramente é possível apenas quando se experiência plenamente e, para isso, deve-se experienciar além do bloqueio que constitui um problema ou dificuldade. Desta maneira, o terapeuta não pode esperar estar sempre confortavelmente informado. Ele deve estar disposto a suportar estar confuso e em dor, se sentir jogado fora do seu passo, a ser colocado em um ponto e não achar uma saída boa, sábia ou competente. Apenas se ele consegue desenvolver formas abertas e visíveis de avançar em sua interação com o cliente nestes aspectos, ele pode levar o cliente a expressar mais seu processo experiencial.

11 Ao longo de todo este trabalho estamos discutindo o que a resposta do terapeuta deve ser para gerar um “trabalho através do processo”. A maior parte dos terapeutas concorda que a psicoterapia não pode ser apenas intelectual, mas também deve envolver um “reviver”, uma “digestão emocional”, um processo de “transferência” interativa no qual o paciente não apenas conversa sobre seus sentimentos, mas os revive e os sente em direção ao terapeuta.

Mas, até mesmo isto, apesar de muito verdadeiro, não caracteriza ainda o processo de mudança. Não é o suficiente que o paciente repita com o terapeuta seus sentimentos perturbadores e formas de organizar suas situações interpessoais. Afinal de contas, o paciente é induzido (ou espera-se que repita) a repetir isto com todo mundo em sua vida, e não apenas com o terapeuta. Desta maneira, o simples repetir, até mesmo quando é um reviver concreto, ainda não ajuda a resolver qualquer coisa. De alguma forma, com o terapeuta, o paciente não repete somente; ele vai além da repetição. Ele não apenas revive; ele vive a mais, se ele resolve (ou soluciona) os problemas experiencialmente.

A literatura psicanalítica é elaborada em relação à conteúdos e conflitos de personalidade, mas escassa em como o processo de “trabalhar através” ocorre. Similarmente, é elaborado sobre a repetição e o reviver da “transferência”, mas vago com o “lidar” ou a “superação” da transferência que ocorre concretamente. Mas este último, é claro, também uma interação viva assim como a transferência o é. É parte da transferência, estes últimos estágios, e o único aspecto da transferência que muda alguma coisa, ao invés de meramente repetir experiências.

Se o terapeuta não pode ser mais visível e aberto que a maioria das pessoas na vida do cliente, e se o terapeuta não pode permitir que o cliente veja o que ele mexeu no terapeuta, então o cliente não será capaz de avançar em sua experiência de forma diferente do que ele geralmente pode. Muitos dos comportamentos interativos do cliente são problemáticos, de autodefesa e negativos na forma como afetam os outros. Consequentemente o cliente vive em situações perturbadoras. Quando o terapeuta se torna ele mesmo uma destas situações (as vezes ele o fará), ele só poderá ajudar se sua reação for mais aberta que a reação usual da pessoa.

O terapeuta raramente precisa declarar reações desse tipo como “apenas meus sentimentos”. Se ele notar tais reações em si mesmo, ele pode então se perguntar “por quê?” Muito em breve ele percebe o porque, na medida em que ele presta atenção, a sua sensação sentida, avança. Então ele pode responder direta e claramente àquela faceta da interação que lhe deu aquela sensação. A parte difícil é perceber que se sente o desconforto. Uma vez observado, ele geralmente explica-se por si mesmo.

O problema geralmente não é a principal dificuldade de personalidade do terapeuta, e desta forma ele é muito mais capaz do que o cliente de avançar em sua sensação sentida. Assim, o terapeuta se torna capaz de responder de uma forma que se move precisamente para além desta dificuldade emocional. Se o terapeuta não fosse usar seus sentimentos momentâneos de perturbação em algo como isto, ele estaria deixando abandonada a vantagem principal que sua principal força ou melhor ajuste (a este respeito) pode oferecer ao cliente. A vantagem é precisamente que o terapeuta provavelmente pode avançar em sua própria sensação sentida do que é errado, enquanto o cliente, até então, não pode.

Contudo, uma pessoa é geralmente afastada de tais sentimentos e entrega-se ao hábito de ignorá-los. Eu aprendi gradualmente a encarar qualquer sensação de constrangimento, estagnação, confusão ou falsidade que eu possa sentir. Ao “encará-las”, eu quero dizer que eu não permito que elas simplesmente sejam a forma que eu sinta, mas transformo-as em algo para qual estou olhando, de onde posso tirar informações sobre este momento. Desse modo, primeiro avanço em pensamento e sentimento, antes de responder a partir dele.

O terapeuta presta atenção em suas próprias reações e as explica para si mesmo antes de expressá-las. Não costumo expressar reações que ainda não estão totalmente claras. ( Farei isso apenas se, após tentar, perceber não consigo esclarecê-las e ainda assim, sentir que elas são relevantes. Só então eu direi algo, mesmo que eu esteja confuso.) Não saberei exatamente o que e porque, de tudo sobre como o cliente engendrou minha reação - mesmo se ele o faz. Mas posso na maioria das vezes, esclarecer meus próprios sentimentos pra mim mesmo, e assim, posso expressá-los de forma clara e simples em poucas palavras. Geralmente, posso simplesmente dizer a quais eventos presentes estou me referindo.

Essa auto-atenção do terapeuta o impede de prestar atenção ao cliente? De forma alguma. Centenas de coisas passam por nossas mentes. Apenas por um esforço vigoroso nós podemos suprimir tudo de forma que não notemos o que está acontecendo conosco. É verdade que a primeira prioridade da minha atenção é para o cliente, ao que ele está dizendo e fazendo, mas isso me deixa bastante espaço para prestar atenção também em minhas próprias reações. Enquanto não forem relevantes, elas simplesmente “se vão”; mas se elas parecem relevantes, eu devo notá-las, levá-las adiante.

Eventualmente, posso decidir se devo manifestá-las. Minha decisão depende se eu acredito que essas minhas reações, pertencem à interação, ou seja, são necessárias para o cliente. Se ele precisa delas para ver mais claramente ao que está se opondo, o que ele faz, então eu devo de alguma forma responder a partir delas para torná-lo capaz de avançar mais ou melhor comigo do que ele faz com outros.

O que o cliente desperta em mim é sempre parte de mim. (Em uma pessoa diferente ele pode provocar reações diferentes). Mas minhas reações são também parcialmente uma função do cliente e sua forma de estabelecer situações e interações. O que quer que seja em mim pode ser revelado desta forma, eu devo garantir que ele possa reagir a isto e avançar mais sua experiência comigo do que ele usualmente pode com outros.

Enquanto os comportamentos mal ajustados do cliente podem provocar a rejeição na maioria das pessoas (e acabaram por fazer o terapeuta desconfortável, digamos), o simples fato de estar envolvido com um problema de personalidade significa que tendências positivas, mantenedoras da vida estão sendo frustradas nestes padrões. Os comportamentos são negativos. Mas aqui, nesta interação, o objetivo do terapeuta é habilitar as tendências positivas a prosperarem, todavia. O indivíduo alcança outros, mas talvez ele o faça das maneiras que falham em alcançar outros e trazer apenas rejeição. (Aqui, contudo, na terapia, outra pessoa será alcançada). O cliente procura se expressar, mas talvez ele pareça “de araque”. (Aqui a resposta do terapeuta tentará garantir que o cliente seja bem-sucedido em se expressar genuinamente, todavia.) O cliente busca afirmar a si mesmo, mas talvez o comportamento resultante é apenas ressentimento passivo. (Aqui, sua autoafirmação será levada como tal e assim pode desenvolver e emergir mais diretamente.) Existe sempre uma tendência positiva que nós podemos “ler” no comportamento negativo. Tal leitura não é uma nossa invenção do tipo Polyana. É, pelo contrário, que algo importante está, sempre e só então, sendo derrotado, promovendo um problema. Se este não é o caso, não existiria desconforto, ansiedade e tensão.

O que quer que esteja sendo derrotado no comportamento usual do cliente e seu padrão de interação, não deve ser derrotado aqui, nesta interação com o terapeuta. Ele deve, ao invés disso, ser expresso mais e avançar no padrão usual de autodefesa. Ele deve ser bem- sucedido aqui, enquanto que usualmente falha em qualquer outro lugar. Isto, contudo, se aplica apenas aos comportamentos interativos do cliente que afetam o terapeuta. Usualmente o terapeuta vai ajudar a interpretar o que quer que seja que o cliente sinta e está contra, seja bom ou ruim. Ele deve ajudar a verbalizar e explicar muitas facetas ruins, negativas, defensivas, desesperadas, hostis e doentes que o cliente sente e às quais se refere. Nenhuma atitude positiva, reconfortante ou reabilitadora pode ajudar. O que é ruim deve ser expresso então exatamente como é ou parece.

É algo bastante diferente, quando o terapeuta toma para si responder com seus próprios sentimentos perturbados ou irritados ao que o cliente está fazendo com ele. Quando o terapeuta usa sua resposta sentimento negativa e a torna mais visível, não é de forma alguma suficiente se o resultado é apenas que o cliente percebe o que ele fez, ou quão negativamente

ele se comporta. É um modo interativo seu, e pode usualmente mudar apenas em um processo interacional concreto adicional e diferente. Se este processo interacional recentemente diferente não acontecer aqui e agora, quando e onde ele acontecerá?

Desta maneira, o terapeuta deve primeiro e principalmente responder às tendências positivas, as quais precisam avançar a partir do padrão negativo. Mas esta tendência positiva pode não ser visível. O terapeuta pode ter que imaginá-la, então respondê-la, e então esperar para ouvir a tendência positiva real bastante diferente que emerge concretamente.

Por exemplo: Eu estou sendo pressionado pela minha cliente a ajudá-la em algum empreendimento que eu conheço e eu não sinto que seja honesto tomar parte nele. Eu não gosto que ela me pressione. Primeira e principalmente, eu devo responder a ela tentando ajudá-la a si mesma, e consequentemente avançando no componente construtivo de seu plano. Se assim eu respondo, ela pode então explicar que isto não era o que estava fazendo de forma alguma. Ela está apenas realmente tentando ficar quite com alguém, se afirmar ao menos uma vez, parar de tomar tudo ao pé da letra. Tudo bem que eu não imaginei corretamente o que a incitação positiva era, mas aqui está algo seu concretamente. Eu digo “Nós certamente fomos longe o suficiente, juntos, para que você pudesse esperar de mim que a ajudasse desta forma. Nós estamos no tornando aliados.” Ela talvez explique novamente que isto não é o ponto pra ela. Preferencialmente, ela quer saber quando eu irei um dia fazer qualquer coisa por ela, exceto conversar. Aqui, então, está a real relação comigo para o qual eu esperava responder. Eu imaginei isto incorretamente. De fato, é ressentido, raivoso e desafiador. Tudo bem então eu responder a isto. “Então você está brava comigo! Eu não tenho feito nada? Eu, penso, me sinto bastante forte para você. Você pensa que eu levo isto suavemente, apenas sentando e conversando. Minha vida é fácil. Bem, é verdade que você tem que aguentar isso na maior parte das vezes por sua conta. E, você está me desafiando a alcançá-lo com você, de verdade.” Suas reações enquanto eu falo irão indicar qual aspecto da sua resposta começa a avançar em qualquer coisa.

O esforço é sempre no sentido de completar as tendências incipientes, positivas e interativas, para fazê-las sucederem e não permanecerem em formas de autodefesa nas quais elas primeiramente surgiram. Num contexto deste tipo de sempre avançar, positivo, o terapeuta pode e deve dar voz às suas próprias reações reais. Neste contexto ele pode, e certamente deveria dizer (por exemplo) que ele se sente pressionado, sentado, empurrado, e não gosta disso - que isto o faz querer afastá-la para longe. Ele não pode meramente reagir como a maior parte das pessoas faz. Isto já não ajudou o paciente.

O processo de interação positiva deve vir primeiro, mas apenas se ele já está em andamento, então o terapeuta pode imediatamente (por exemplo) expressar o sentimento de estar sendo pressionado, mesmo sem respostas positivas procuradas primeiramente. Mas mesmo assim o conteúdo de sua auto expressão será, “Eu estou me sentindo pressionado por você, e isso me faz sentir como se a afastasse, mas isto não é como eu normalmente me sinto com você. Então, vamos fazer algo para esclarecer, resolver, uma vez que isto não é realmente como eu e você somos.”

Porque os detalhes que eu descrevi acima são difíceis de descrever, este aspecto da psicoterapia é um dos menos bem entendidos. Existe muita discussão em geral sobre “confrontar” o paciente com as reações reais do terapeuta; mas se a pessoa fez isto como é usualmente descrito, a pessoa apenas reagiria ao paciente como a maioria das pessoas em  sua vida reage. Sua esposa e seu amigo com frequência suficientes dizem a ele o que está errado com ele, e como ele os faz sentir. Ele pode tolerar isto do terapeuta, não porque ele confia no respeito do terapeuta por ele de forma geral, mas porque com o terapeuta este padrão negativo específico está (ou será imediatamente) avançando para uma realização positiva, mantenedora de vida e experiencial, que estava apenas implícita e foi parada e perturbada até então.

O MÉTODO E TEORIA EXPERIENCIAL

Precedendo estas duas seções eu apresentei dois aspectos da resposta experiencial:

(1) os esforços do terapeuta em responder aos significados do cliente e desta forma avançar na experiência do cliente, e (2) os esforços do terapeuta em responder abertamente ao comportamento interativo do cliente. O segundo esforço é também projetado para avançar na experiência do cliente. O que é agora a relação entre estes dois aspectos da terapia?

Enquanto que um foco relativamente formal no significado expresso pelo cliente costumava ser necessário, agora o terapeuta procura responder a experiência sentida, e ainda implícita. O significado expresso é visto como apenas uma faceta explícita. (Mas enquanto isto não estava claramente declarado antes, este sempre foi o objetivo do terapeuta centrado no cliente). Similarmente, o comportamento interativo do terapeuta costumava ser limitado a um papel relativamente formal de “refletir” apenas sobre os sentimentos do cliente. O terapeuta se recusava a reagir a partir de sua própria pessoa, às vezes ao ponto da completa exasperação e desespero por parte do cliente. (Mas de novo, tal absoluto papel executado nunca foi a intenção ou prática de Rogers. Não foi dito claramente, mas o terapeuta era impelido a dedicar seu sentimento real de vida a sentir os sentimentos do cliente.) Apesar da intenção subjacente, ocorreu frequentemente uma repetição grosseira do que os clientes disseram, e obviamente recusas artificiais pra interagir abertamente.

Atualmente, a ênfase está na resposta experiencial, tanto em relação ao que está no cliente para o qual nós procuramos responder, quanto para o que nós mesmos expressamos e mostramos na interação. A teoria da experiência (Gendlin, 1962a, 1964, 1966a, 1966b, 1968) desenvolve um método de pensamento e teoria que nos capacita a diferenciar e formular o que concreta e experiencialmente ocorre.

Porque estas diferentes orientações para a terapia parecem tão similares quando são examinadas experiencialmente? É porque nós estamos então olhando para o que atualmente ocorre na psicoterapia, concretamente, quando esta funciona. Os eventos que então acontecem não são sempre exatamente os mesmos em cada orientação de terapia, mas eles são em grande parte, os mesmos. Existem apenas alguns poucos processos concretos que são terapêuticos, apesar de existir uma variedade de formas de conceitualizá-los. Desta formaas semelhanças entre diferentes orientações se tornam visíveis quando cada12orientação é reformulada experiencialmente.

A teoria experiencial permite a diferenciação dos processos concretos da terapia. Mais do que deixá-los como alguns termos vagos em nossa teoria (por exemplo, “trabalhar através”, ou “autorrealização” ou “digestão emocional”), nós podemos e devemos especificar o que ocorre conosco e com o cliente muito mais especificamente e com muito mais termos e passos. Então nós podemos esperar desenvolver um vocabulário que nos permitirá formular mais o processo da psicoterapia, para comunicar como nós o praticamos de forma que possamos treinar novos terapeutas mais efetivamente, e definir variáveis de pesquisa observáveis específicas (Gendlin, 1968) cujas associações serão ambas replicáveis e significativas.

O fato de que muito do que nós realmente queremos dizer torna-se concretamente o mesmo em várias orientações não implica que nós podemos nos acomodar em um relativismo confortável onde todos conversamos vaga e diferentemente, mas estamos confiantes que queremos dizer as mesmas coisas. Preferencialmente, isto significa que assuntos mais antigos entre os diferentes métodos foram transcendidos, e um novo método experiencial universal de teoria abre novas oportunidades pelas quais estávamos esperando.


,

12 Desta forma as formulações experienciais da psicanálise que eu tenho oferecido nestas notas de rodapé ilustraram que a psicanálise pode se tornar experiencial, assim como a terapia centrada no cliente já o fez. Nós podemos conservar os vários conceitos teóricos em sua precisão e as diferenças entre eles (de forma que nós podemos raciocinar lógica e teoricamente quando desejarmos), e ainda assim, formular e diferenciar eventos concretos experiencialmente aos quais nos referimos. Tal precisão experiencial também desenvolve termos suficientemente específicos para levar as variáveis de pesquisas operacionais, de forma que as diferenças no nível teórico se tornem capazes de serem estabelecidas tanto por mais trabalho observacionais específicos, quanto pela pesquisa.