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Joao Carlos Messias

MESSIAS, J.C.C. (2007) O plural em foco: um estudo sobre a experienciação grupal. Tese de Doutorado. Centro de Ciências da Vida, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas, 252 pp.

RESUMO

Esta pesquisa objetivou compreender a experiência de uma equipe formada por estudantes universitários em relação à tarefa de elaborar um projeto acadêmico, ao longo de um ano letivo. O referencial teórico foi a Psicologia Humanista, mais especificamente a Filosofia do Implícito, desenvolvida por Eugene T. Gendlin. Caracteriza-se como um estudo fenomenológico de caráter exploratório. Durante um ano o pesquisador participou de treze reuniões realizadas pela equipe. O pesquisador e os membros da equipe redigiram versões de sentido individuais, ao término das reuniões, para apreender as impressões dos participantes a respeito de cada etapa do processo. Esses relatos foram organizados em um quadro geral contendo noventa e uma versões de sentido e a compreensão psicológica decorrente. O pesquisador narrou o processo grupal a partir de sua própria experiência como participante da equipe, gerando um relato acerca da trama intersubjetiva. O método adotado pelo pesquisador para explicitar os elementos de sua própria subjetividade ao longo do processo de interpretação da experiência vivida foi o Thinking at the Edge – TAE, desenvolvido por Gendlin. Esse recurso também possibilitou ilustrar como acontece a elaboração do significado de uma experiência do ponto de vista psicológico. Concluiu-se que o processo desta equipe, centrada na tarefa, possibilitou a emergência de um grupo que partilhou um sentido comum. Desenvolveram-se duas formas de liderança ao longo deste processo, uma centrada na tarefa e outra centrada no desenvolvimento de um significado grupal. Foram identificadas três camadas distintas na forma como os seis membros da equipe organizaram-se e contribuíram para o desenvolvimento da tarefa. A pesquisa possibilitou uma compreensão da equipe como um organismo coletivo, dotado de identidade própria. A partir desta perspectiva, foi possível compreender algumas peculiaridades da dinâmica grupal e as possíveis repercussões deste estudo para aplicações em campos variados, com destaque para os ambientes profissionais.

Palavras-chave: Atenção Psicológica Clínica em Instituições; Filosofia do Implícito; Pesquisa Fenomenológica; Processo Grupal; Equipes de Trabalho.

 

MESSIAS, J.C.C. (2007) Focusing the plural: a study about group experiencing. Doctoral Thesis. Centro de Ciências da Vida, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas, 252 pp.

ABSTRACT

This research aimed to comprehend the experience of a team composed by college students towards the task of elaborating an academic project during one year and it is characterized as an exploratory phenomenological study.  Humanistic Psychology offered the theoretical reference more specifically through the Philosophy of the Implicit developed by Eugene T. Gendlin. During one year, the researcher participated on thirteen team meetings. Team members, as well as the researcher, wrote individual “Meaning Versions” at the end of every reunion in order to grasp their impressions about each stage of the process. Those reports were organized in a chart made of ninety-one Meaning Versions and the resulting psychological comprehension. The researcher narrated the group process from his own experience as a participant generating a report about the intersubjective intricacy. The method used by the researcher to make explicit the elements of his own subjectivity all the way through the process of interpretating the experience was Thinking at the Edge – TAE, developed by Gendlin. This resource also made possible to illustrate how, from a psychological point of view, the creation of an experience meaning happens. It is understood that the process of this task centered team made possible the emergence of a group that shared a common meaning. Two types of leadership emerged during the process: one task centered and the other type focused on the development of a group meaning. Three different levels were identified regarding the manner how the six members organized themselves and contributed towards the task development. The research made it possible to comprehend the group as a collective organism endowed with its own identity. From this perspective, it was possible to understand some particularities of group dynamics as well the potential repercussion of this study for applications in various fields, especially professional environments.

Key words: Clinical Psychological Attention at Institutions; Philosophy of the Implicit; Phenomenological Research; Group Process; Work Teams.

 

Fazendo as malas para voltar

Terminado o período de acompanhamento do grupo, eu estava repleto de vivências, idéias, emoções, informações, imagens e um sem número de etceteras que, de alguma forma, tornavam minha bagagem difícil de carregar. Estava no saguão do envolvimento existencial e precisava tomar o avião de volta ao distanciamento reflexivo. Mas não o conseguia.

Tinha um gancho claríssimo para o Felt Sense que me impedia de fazer o check in: sentia-me entupido. Lembro-me de ter despendido bastante tempo e energia digladiando-me com aquela sensação até dar-me conta que isso não seria necessário. Ao contrário, havia algo em mim a pedir espaço e atenção. Em vez de mais uma rodada de focalização, senti que seria mais interessante aproveitar para experimentar o método Thinking at the Edge – TAE, por ser desenhado especificamente para a produção de teoria. Considero pertinente descrevê-lo, pois foi um movimento importante na elaboração deste trabalho.

Assim, é possível demonstrar o método ao mesmo tempo em que ele é empregado, o que caracteriza o que já foi mencionado anteriormente: um exemplo de si mesmo (IOFI – Instance of Itself). As instruções do método TAE estão em formato caixa alta a fim de destacá-las do conteúdo elaborado a partir das mesmas.

PASSOS 1 – 5: FALANDO A PARTIR DO FELT SENSE

Passo 1: Permitir que um Felt Sense se forme

Eu quero tocar a energia que flui em grupos especiais. Já senti essa energia antes e a senti, novamente, nesse grupo que acompanhei para fins da pesquisa. Que energia é essa? Por que ela me parece tão especial? Como fazer para compreendê-la e melhor aproveitá-la?

Um grupo, para mim, é um organismo único. É como uma grande pessoa. É como uma pessoa coletiva dotada de personalidade, sentimentos e experienciação.

A energia do grupo flui como eletricidade. Há bons condutores, pessoas que a fazem fluir melhor. Cada um sente essa energia de forma diferente. Um grupo de bons condutores tende a ser “elétrico”, ao passo que um grupo de isolantes tende a ser apático.

Em contato com o meu Felt Sense a respeito do tema, chego a uma primeira formulação: “Um grupo é um organismo plural, dotado de Felt Sense. Como é a sua Experienciação?”.

A palavra chave é “Felt Sense” e uma situação concreta que o exemplifica são as reuniões 09 e 10 do grupo, o que me leva a reformular a frase, que passa a ficar assim: “Momentos de alta experienciação do grupo são criativos, cheios de energia, empolgantes”. Ainda ancorado nas reuniões 09 e 10, acrescento: “Sinto que momentos de alta experienciação do grupo são especiais”. Emerge, então, uma frase que parece melhor simbolizar meu Felt Sense nesse início de processo, aquele que deve servir como a bússola a me orientar na busca do limiar do pensamento:

“Há algo especial nos momentos de alta experienciação de um grupo, algo como um caldeirão em ebulição, uma fusão, uma outra dimensão de funcionamento”.

Essa frase representa bem o Felt Sense, porém ela ainda vai ser transformada no próximo passo, ao ganhar um refinamento maior.

Passo 2: Encontrar o que é mais do que lógico nesse Felt Sense.

Gendlin nos aconselha a encontrar um paradoxo no Felt Sense que temos a respeito do tema. Tal estratégia tem a função de gerar uma tensão capaz de impulsionar o processo. Eis meu paradoxo:

“O que é mais especial para o grupo como um todo não é percebido pelo grupo como um todo”.

Encontrar esse paradoxo me fez reformular a frase que eu havia redigido no primeiro passo, sempre em ressonância com o Felt Sense que tenho a respeito do tema:

“Momentos de alta experienciação catalisam uma transformação no modo do grupo funcionar”.

Essa formulação combina bem com o paradoxo encontrado no segundo passo: os momentos de alta experienciação catalisam uma transformação no modo de o grupo funcionar e por isso são tão especiais. Muitos grupos nunca chegam a viver tal experiência, porém, mesmo nos grupos a que vivem, como foi o caso desse pesquisado, a percepção desses momentos varia, sensivelmente, de pessoa para pessoa.

Suponho que o grau de percepção que cada membro do grupo possui a respeito da experienciação intersubjetivamente partilhada no grupo, ou seja, da experienciação do grupo, esteja diretamente relacionada ao grau de abertura à experienciação que cada pessoa do grupo possui. Quão maior for o nível de experienciação próprio de uma pessoa, maior deve ser sua capacidade de perceber a experienciação do grupo.

Quando cheguei a essas formulações, senti um claro Felt Shift. A fornalha acendeu dentro de mim.

Passo 3: Perceba que o que você quer dizer não é o mesmo que a definição padrão das palavras.

Como o que se busca é uma perspectiva nova a respeito do tema, inevitavelmente, as palavras empregadas terão uma conotação que não é exatamente aquela do léxico oficial. A palavra sublinhada na frase que funciona como ponto de partida para o TAE é o principal gancho do Felt Sense. Nesse caso, trata-se da palavra “catalisam”. De acordo com o dicionário, catalisador significa algo estimulante, dinamizador,incentivador.

Esse sentido está correto em termos do que busquei expressar, porém incompleto. Há mais nisso. Nesse terceiro movimento, Gendlin nos orienta a retirar a palavra chave da frase inicial e, sempre alicerçados no Felt Sense, procurar outras duas palavras que possam preencher a lacuna.

“Momentos de alta experienciação _________ uma transformação no modo de o grupo funcionar”.

As palavras que escolhi são: abençoam e excitam. Buscar essas palavras implica, necessariamente, um processo de focalização. É impossível avançar em TAE sem uma familiaridade com a focalização, dado o fato de que essas palavras surgem como ganchos do Felt Sense. A segunda palavra (abençoam) surgiu muito claramente para mim. A terceira, por outro lado, resulta em um refinamento de uma palavra anterior – fecundam – que foi sentida como “próxima, mas ainda não exatamente aquela”. Uma cuidadosa verificação da ressonância do gancho (quarto passo da focalização) permitiu que “excitam” substituísse “fecundam”, o que gera:

“Momentos de alta experienciação abençoam uma transformação no modo do grupo funcionar”.

De acordo com o dicionário, “abençoar” significa: 1) benzer, bendizer; 2) fazer feliz, tornar próspero, proteger; 3) constituir benção ou proteção para; 4) fazer o sinal da cruz, benzer-se.

“Momentos de alta experienciação excitam uma transformação no modo de o grupo funcionar”.

De acordo com o dicionário, “excitar” significa: 1) ativar ação de; 2) estimular, instigar, incitar; 3) animar, estimular; 4) dar origem a, despertar, ativar, mover, causar; 5) irritar, provocar, enraivecer, encolerizar; 6) promover, provocar, suscitar; 7) promover o desenvolvimento de; 8) produzir erotismo em; 9) mover, exortar, incitar, concitar; 10) produzir erotismo, lascívia, excitar-se; 11) estimular-se, animar-se; 12) irritar-se, encolerizar-se, enraivecer-se, enfurecer-se; 13) exaltar-se, inflamar-se.

Passo 4: Escreva uma frase nova para representar o que você gostaria que cada uma das três palavras exprimisse.

A seguir, passo a reformular as frases a partir da articulação entre o significado “oficial” das palavras e o pessoal que busco representar.

“Momentos de alta experienciação catalisam uma transformação no modo de o grupo funcionar”.

Esses momentos parecem mesclar as potencialidades de todos, derretem limites, combinam elementos. Eles permitem que o grupo ative o seu potencial global. O que falta em um, há no outro. A forma como um membro do grupo normalmente funciona passa a funcionar de maneira diferente na presença do outro.

“Momentos de alta experienciação abençoam uma transformação no modo de o grupo funcionar”.

Há algo de sagrado nesse fenômeno. Esses momentos protegem o grupo em sua transformação, ativam sua saúde e liberam sua energia. Eles fazem o grupo transcender sua condição, ao levá-lo a uma superação, uma elevação. A alegria é como um verniz que dá acabamento e proteção à transformação recém-acontecida.

“Momentos de alta experienciação excitam uma transformação no modo de o grupo funcionar”.

A palavra chave “fecundam” serviu como uma alavanca para “excitam”. Nesse processo de concepção, a excitação parece ser fundamental. Ela gera energia para a transformação. Há um caldeirão emocional em ebulição, partilhado de maneiras diferentes, porém presente. O prazer pela companhia e pela realização da tarefa é claramente perceptível.

Passo 5: Procure expandir o que você queria dizer com cada palavra, redigindo frases novas e pouco usuais.

O quinto passo do processo TAE consiste em jogar com as palavras de forma a encontrar um eixo entre os elementos expressos até o momento. Cada palavra desdobrada funciona como um núcleo gerador de sentidos. Gendlin recomenda articular esses pontos, jogar com as palavras e frases de maneira livre até que surja algo de que gostemos e manter um espaço aberto, representado por ... para indicar a conexão com o Felt Sense.

Em uma só frase, o que surgiu até o momento é:

“Momentos de alta experienciação catalisam uma transformação no modo de o grupo funcionar, ... bem como a protegem e fecundam”.

Em resumo, o sentido principal que busquei expressar em cada um dos núcleos representados pelas palavras-chave foi:

Catalisam: derretem limites e combinam elementos

Abençoam: protegem e promovem a saúde

Excitam: concebem e dão prazer

Ao transpor essas idéias para uma redação mais livre, chego à seguinte formulação:

Momentos de alta experienciação do grupo são fundamentais pela sua capacidade de derreter ingredientes individuais e combiná-los em uma nova substância, tal qual um caldeirão em ebulição. Esses momentos também oferecem as condições que protegem essas reações, de maneira continente e saudável. Neles, o grupo sente prazer em estar junto e ser capaz de criar.

PASSOS 6 – 8: ENCONTRANDO PADRÕES A PARTIR DE EXEMPLOS

Passo 6: Colecionar exemplos

O principal objetivo do nível intermediário do TAE consiste em articular a formulação teórica que está sendo desenvolvida e a experiência concreta que a sustenta. Para Gendlin (1997), a experiência que temos acerca do tema que está sendo trabalhado funciona, implicitamente, em nosso pensamento. Por essa razão, é impossível utilizar esse método quando pensamos sobre um tema desconhecido para nós. A releitura de nossa experiência, a partir dos novos elementos que estão surgindo, pode proporcionar detalhes importantes para aprimorar as formulações que buscamos.

Assim, Gendlin (2004) nos orienta a encontrar três exemplos de acontecimentos reais relacionados ao tema em questão. Por essa razão, utilizo pseudônimos para preservar a identidade de pessoas e instituições citadas. A única exceção refere-se ao próprio grupo pesquisado, dado o fato de que os cuidados éticos já foram devidamente tomados para fins da pesquisa como um todo. Esse é o eixo fundamental da pesquisa e, por essa razão, vou identificá-lo como Exemplo 0, pois representa a base de tudo.

Exemplo 0: as reuniões 09 e 10 do grupo pesquisado.

Exemplo 1: a conversa com o Edvaldo na volta do trabalho.

Exemplo 2: o debate em uma das aulas da professora Ludmila na época da graduação.

Exemplo 3: as aulas do professor Amarildo.

Mais uma vez, o processo básico para a “eleição” desses exemplos é a focalização, o que significa que não se trata de escolher exemplos através de um processo meramente racional. Os elementos derivam do Felt Sense que tenho a respeito do tema sobre o qual me dedico a refletir. O próprio Felt Sense vai se transformando à medida que o pensamento avança, porém continua sendo sempre o referencial fundamental.

Durante esse processo, um fato muito interessante ocorreu. Eu senti que esses três exemplos eram os mais representativos. Enquanto me dedicava a verificar a ressonância desses ganchos, ao mesmo tempo em que tinha a sensação de que sim, eram mesmo os melhores, surgiram vários outros exemplos secundários que reforçavam os principais, como se tivessem o objetivo de torná-los ainda mais claros e certos. Todos os secundários conectavam-se aos principais como se houvesse uma espécie de magnetismo entre eles. Assim, a lista completa ficaria assim:

Exemplo 0: as reuniões 09 e 10 do grupo pesquisado, assim como o encerramento do Curso X ou a última reunião do Módulo Y.

Exemplo 1: conversando com o Edvaldo na volta do trabalho, assim como os bons papos com o André em nossas viagens ao camping, durante nossa adolescência.

Exemplo 2: o debate em uma das aulas da professora Ludmila na época da graduação, assim como um momento crítico em reunião de colegiado na faculdade ou um momento especialmente emocionante em um grupo de encontro do qual participei.

Exemplo 3: as aulas do professor Amarildo, assim como todo o processo de composição musical com o Paulo.

Esse é um momento curioso. Eu sei que há muita coisa implicitamente significativa nesses exemplos e sei que eles são os melhores exemplos de tudo que pretendo estudar. Só não sei ainda quais são os detalhes, nem os porquês. Vamos, então, tentar desdobrá-los.

EXEMPLO 1: Conversando com o Edvaldo na volta do trabalho.

Era tarde da noite e estávamos voltando da faculdade, falando sobre como a sociedade está constituída em termos de valores, cultura, comportamento, etc. Eu tinha uma sensação de cumplicidade e entusiasmo. Apesar do horário e do fato de estarmos cansados depois de muito trabalho, não queríamos parar de conversar. Para não correr o risco de um assalto caso seguíssemos conversando dentro do carro, parado em frente à minha casa, tivemos que dar algumas voltas extras no quarteirão. Senti a mesma afinidade que sempre senti em meus bate-papos com o André, um grande amigo de infância.

Detalhes específicos: esses são exemplos de um aspecto afetivo da interação, quando a afinidade e a excitação por romper barreiras e descobrir coisas novas potencializa o prazer da companhia. Em ambos os exemplos, os assuntos eram polêmicos e concordávamos a respeito dos elementos mais importantes, o que nos colocaria irmanados em uma forma de pensar diferente de muitas outras pessoas.

EXEMPLO 2: o debate em uma das aulas da professora Ludmila, na época da graduação.

Nessa situação, bem como nos outros exemplos, havia um debate acirrado acerca de algum assunto que mobilizava muito o grupo como um todo e que provocava divergências. Lembro-me de argumentos variados e de um estado de tensão que só desapareceu quando alguém (em cada uma das situações mencionadas) foi capaz de falar de uma maneira muito pessoal ao evocar valores fundamentais. Senti que, nesses momentos, houve uma liderança inspiradora, pois o efeito sobre o grupo era notável.

Detalhes específicos: nesses exemplos, os valores aparecem como referenciais inspiradores para as pessoas. Quando o líder fala a partir deles, de uma maneira verdadeiramente pessoal, parece sensibilizar os outros membros.

EXEMPLO 3: as aulas do professor Amarildo.

Era um pequeno grupo dedicado a uma tarefa específica: tínhamos uma teoria complexa para estudar. Havia um certo clima de disputa saudável entre mim e o Leandro, como se estivéssemos jogando tênis de mesa. O desafio me impulsionava à ação. Como dois garotos que disputam uma corrida de bicicletas, eu sentia o desejo de vencer, ao mesmo tempo em que sentia admiração pelas boas manobras do meu oponente. Assim como sempre aconteceu com o Paulo, meu ex-parceiro em um grupo musical, quanto mais e melhor ele me desafiasse, mais eu o admirava e me sentia grato. Lembrei-me de uma entrevista de John Lennon na qual ele conta que sua parceria com Paul McCartney funcionava assim. Ou talvez fosse o Paul falando isso sobre o John... não importa.

Detalhes específicos: nesses casos, o outro funciona como um contraponto importante para o desenvolvimento. A disputa saudável permite que um apóie o outro, bem como impede que cada um se acomode.

EXEMPLO 0: as reuniões 09 e 10 do grupo pesquisado.

Em cada uma dessas reuniões do grupo, uma parte do tempo foi dedicada, espontaneamente, à memória de sua própria história com um especial destaque às conquistas que foram tendo a cada etapa. Em minha experiência pessoal, presenciei o mesmo movimento no encerramento do Curso X e na última reunião do Módulo Y, situações muito significativas para mim. Havia um forte sentimento de conquista e celebração.

Detalhes específicos: talvez esses sejam os melhores exemplos do aspecto que descrevo através da palavra chave “abençoam”. A celebração pela conquista é explícita no sorriso e no olhar das pessoas, que parecem agradecidas e se regozijam com ela.

Passo 7: Permitir que os exemplos contribuam para uma estrutura detalhada

A partir dos exemplos trabalhados no passo anterior, emergem padrões que contribuem para um maior aprofundamento do tema.

Sobre o EXEMPLO 1: para mim, um dos elementos mais significativos nesse exemplo é a cumplicidade decorrente do fato de partilhar pontos de vista e descobertas. O prazer da companhia é valioso e altera a sensação de tempo. Momentos como esse me parecem densos, pois condensam significados e emoções. São sentidos como mais especiais que outros e, por isso, não queremos que acabem.

Padrão 1: momentos de grande cumplicidade em uma relação amplificam o potencial de criação de significado, e por isso são prazerosos.

Sobre o EXEMPLO 2: o fator fundamental nesses exemplos é a importância que uma liderança significativa possui. Quando alguém é capaz de levar o grupo a entrar em contato com valores inspiradores, tende a provocar uma reação sensível no grupo. Assim, alteram-se argumentos e posicionamentos, bem como parece haver um movimento de maior coesão de pessoas e seus potenciais.

Padrão 2: uma liderança significativa advém da capacidade de colocar o grupo em contato com valores inspiradores.

Sobre o EXEMPLO 3: o uso positivo da competitividade surge como elemento principal nesses exemplos. Assim como na proposta dos jogos olímpicos, o desafio que se coloca aos integrantes do grupo é o da superação. A disputa saudável cria um tônus importante para tal. As crianças jogam e crescem com isso. Os parceiros de um grupo também podem oferecer apoio mútuo e desafio.

Padrão 3: desafio e competição, quando vividos de maneira saudável, podem contribuir para o desenvolvimento dos membros de uma equipe.

Sobre o EXEMPLO 0: o ponto fundamental está relacionado à celebração. Em todos os exemplos dessa categoria, o tempo dedicado à memória dos acontecimentos, ao reconhecimento do esforço empregado e à celebração das conquistas alcançadas foi sentido como especial, mesmo ao fazer parte do tempo dedicado à execução da tarefa. Nesses momentos, as baterias eram recarregadas.

Padrão 0: momentos para celebração das conquistas – mesmo das parciais – são importantes para revigorar o grupo e manter um sentido de identidade.

Passo 8: Cruzando os exemplos

Os exemplos levantados nos passos anteriores são aspectos, facetas de um mesmo todo, sobre o qual se busca elaborar uma formulação conceitual precisa ao longo do processo de TAE. Nesse passo, a tarefa consiste em cruzar os elementos que surgiram para permitir um desdobramento ainda maior de significados.

É importante destacar que o que se busca, neste momento, não é encontrar o que há em comum entre os elementos, mas o que pode ser visto em um, a partir do outro. Achei interessante voltar aos ganchos (ou palavras-chave) para seguir adiante nesse passo. Isso me ajudou a encontrar novos ganchos a partir do cruzamento dos exemplos.

Do primeiro exemplo (E1): relações cúmplices.

Do segundo exemplo (E2): liderança significativa.

Do terceiro exemplo (E3): competitividade e jogo.

Do exemplo original (E0): celebração.

Nesse momento, parei e senti um forte Felt Shift: “uau, esse negócio é mesmo incrível!”. Fiquei emocionado ao começar a imaginar as possíveis combinações e, ao mesmo tempo, ansioso em querer fazer tudo de uma vez. Sentia-me como uma criança à frente da mesa de doces de uma festa de aniversário. Tive, novamente, a clara sensação de que os significados começavam a se desdobrar, exponencialmente, dentro de mim, muito antes de uma articulação racional e consciente. Um Felt Sense apareceu. Comecei a rascunhar ganchos para as combinações, pois fiquei com medo de perder aquela riqueza toda. O “x” significa “em função de” e tem uma mútua direção. Assim, por exemplo, na primeira relação temos “do exemplo 1 em função do exemplo 2 e vive-versa emerge a noção de algo a ser partilhado e que valha a pena”. Eis os cruzamentos:

E1 x E2: algo a ser partilhado e que valha a pena.

E1 x E3: conhecer você, ajuda-me a me conhecer. Disputar com você, ajuda-me a superar-me.

E1 x E0: gratidão, proteção, fraternidade.

E2 x E3: respeito, ética, atitude, postura.

E2 x E0: confiança e fraternidade.

E3 x E0: diversão.

Todos esses elementos são ganchos de um grande Felt Sense a respeito do tema. No passo seguinte, há o convite para elaborar o que tenha surgido, até então, de maneira livre. Tudo o que será redigido no passo seguinte é, com efeito, um desdobramento do Felt Sense e dos ganchos obtidos acima.

Passo 9: Escrever livremente

Eis um pouco da essência que me inspira a realizar minha tese; busco compreender como é a experienciação partilhada em um grupo. Já vivi momentos significativamente especiais em diferentes grupos dos quais participei e vários deles existiam em função da realização de algum trabalho. O que torna esses momentos especiais? O que, além das tarefas, é partilhado entre as pessoas? O que acontece nesses grupos (ou, ao menos, nesses momentos desses grupos) que os torna tão sensivelmente diferentes dos demais?

Sinto que o conceito de experienciação pode ser muito interessante para ajudar a explorar essas questões. Esse conceito foi elaborado por Gendlin (1961), com o intuito de refinar a conceituação que Rogers tinha a respeito da personalidade e do funcionamento psicológico humano, e representa um avanço qualitativo da maior expressão em termos de formulação teórica. Ainda que a interação seja um aspecto crucial da Filosofia do Implícito (Gendlin, 1997), Gendlin privilegia a compreensão do processo individual, ao aprofundar-se no modo como uma pessoa experiencia. Ele esclarece o que se passa no processo experiencial de uma pessoa e enfatiza sempre que ninguém está desconectado do resto do mundo ou das outras pessoas. Os outros, as coisas e o que tudo isso significa para alguém funciona, implicitamente, em seu processo experiencial, o que me leva a questionar o que se passa no espaço entre as pessoas.

Nas relações humanas, o eco de uma pessoa ressoa no campo experiencial da outra e vice-versa. A forma como cada uma vive essa ressonância depende da sua própria maneira de experienciar, mais conectada ou mais alienada de acordo com o seu nível de experienciação. Aí está um ponto intrigante. Quando essas pessoas, dotadas de níveis e maneiras particulares de experienciar, necessitam conviver, durante um período de tempo para a realização de uma tarefa, ou seja, constituir uma equipe de trabalho, qual será a configuração intersubjetiva que essa equipe ganhará? Imagino que uma equipe que tenha um nível experiencial mais elevado tenda a cumprir sua tarefa de maneira mais saudável e significativa. Não creio que o resultado seja necessariamente melhor que o de outras equipes, pois há outros elementos importantes em jogo, como competências técnicas individuais, recursos disponíveis ou variáveis ambientais como a concorrência, por exemplo. Ainda assim, sinto que o processo em si tende a ser mais positivo.

Para que esses momentos de maior experienciação coletiva ocorram, parece-me necessário que algumas condições estejam presentes. Sinto que a tarefa tem que ter sentido para o grupo. É difícil dedicar-se visceralmente a alguma coisa que não valha a pena. Como cada membro do grupo sente a tarefa? O grupo faz uma reflexão a respeito, ou apenas executa mecanicamente os trabalhos necessários para a realização da tarefa?

A interação entre os membros parece-me algo fundamental. A presença de uma pessoa pode ativar características talvez latentes na outra, sejam elas positivas ou negativas. O grupo está cônscio disso? Os membros são capazes de ampliarem seu auto-conhecimento a partir da ressonância que os outros provocam? Os membros são capazes de tirar proveito das diferenças que possuem? Conseguem canalizar, intencionalmente, as energias derivadas de possíveis disputas e competições?

Como o grupo zela pelo bom fluir de sua energia? É razoável pensar que, ao menos, uma parcela dessa energia seja derivada da dinâmica provocada pelas diferenças existentes entre as pessoas. É preciso haver uma certa tensão, como em um motor a combustão. Como o grupo cuida desse motor? Há um clima positivo de respeito, fraternidade e ética entre os membros? Há confiança?

O grupo é capaz de celebrar as conquistas que atinge? De que maneira ele mantém sua motivação para seguir adiante? Qual é o sentimento preponderante em relação à tarefa?

Essa é a conclusão da fase intermediária do TAE e serve de base para a fase final, organizada através dos passos 10 a 14. De acordo com Gendlin (2004), “um propósito do TAE foi atingido agora – o de articular um saber implícito e torná-lo comunicável. Se você desejar, pode seguir adiante na construção de uma teoria lógica e formal” (p. 17).

PASSOS 10 – 14: CONSTRUINDO TEORIA

Passo 10: Escolher termos e ligá-los

Na segunda fase do TAE, Gendlin (2004) nos orienta a escolher três palavras ou frases para que sejam termos provisórios (A, B e C), de modo a formar um triângulo capaz de conter o ponto crucial do raciocínio que está sendo elaborado. Os termos que escolhi foram:

A: organismo plural ;

B: do todo para as partes ;

C: princípio vital .

Ao detalhar cada um dos termos, encontro os seguintes elementos:

A: organismo plural – um grupo possui uma identidade; o que se aplica a um indivíduo vale também para um grupo; o grupo possui uma capacidade curativa / transformadora; o grupo existe em um nível transcendental.

B: do todo para as partes – foco no acorde; há beleza e alegria no todo; do que o todo necessita? As partes podem responder ao todo de maneiras flexíveis, criativas.

C: o princípio vital – tendência formativa; tendência atualizante – tendência atualizante do grupo; capacidade de rearranjar as necessidades do grupo / articular as necessidades do grupo com as necessidades individuais.

A seguir, passamos a articular os termos (A, B e C), um em função do outro. Gendlin (2004) sugere montarmos equações “A = B” e “A = C” e substituirmos o sinal de igualdade pela palavra “ É ”. Os devidos ajustes devem ser feitos, mantendo-se a referência do Felt Sense.

Assim, a primeira equação gera:

(A) organismo plural  É (B) do todo para as partes , ou seja:

(A = B) um organismo plural só pode ser compreendido quando o foco é dirigido ao todo, e não, ao conjunto de indivíduos.

A segunda equação produz:

(A) organismo plural  É (C) o princípio vital , ou seja:

(A = C) um organismo plural é uma expressão do princípio vital da natureza.

Achei relevante inserir o passo a passo do método TAE, pois, além de ter sido muito útil para mim, é, em si mesmo, um excelente exemplo da teoria experiencial. Todo o esforço para a elaboração de um sentido (acerca do fenômeno grupal, nesse caso) está alicerçado em dois extremos opostos: de um lado, a experiência pré-conceitual, visceral; do outro, a lógica formal. Cada um dos termos e suas combinações foram verificados em função do Felt Sense que eu tinha da vivência como um todo.

Passo 11: Buscar as relações inerentes entre os termos

O décimo primeiro passo visa a explorar a complexidade do que foi definido no passo anterior. Além da equação (= É), seguimos adiante admitindo a idéia de que há algo inerentemente articulado nos termos escolhidos. Essa assunção é plenamente coerente com a teoria subjacente à Filosofia do Implícito, pois segue a idéia de que nosso corpo sabe o caminho; o que está em jogo é a capacidade de simbolizá-lo.

Nesse estilo “a la Gendlin” de fazer fenomenologia, volto à coisa mesma da vivência e pergunto: o que é inerente nessas relações?

organismo plural É INERENTEMENTE (B) do todo para as partes

Uma outra maneira de abordar essa mesma relação é questionar qual é a essência de (A) de tal forma que ela tenha que ser (B) ou tenha que estar em relação com (B)? Descrevi a essência que cada um desses termos tem para mim no passo anterior. Sigo “abrindo” o raciocínio:

(A é inerentemente B) um grupo possui uma identidade própria, é uma entidade que só pode existir num nível transcendental ao conjunto de indivíduos. Por ser uma entidade com identidade própria, possui suas próprias demandas e necessidades.

Façamos o mesmo com a segunda relação:

organismo plural É INERENTEMENTE (C) o princípio vital

(A é inerentemente C) a transcendência que caracteriza a entidade do organismo plural é uma expressão do princípio vital da natureza, a tendência formativa. Há uma tendência atualizante grupal.

Outra estratégia para exploração dos elementos potenciais é a reversão das sentenças. De acordo com Gendlin (2004):

“Uma teoria TAE é tanto lógica quanto experiencial. O sinal de igualdade não elimina a diferente complexidade de cada termo. Essa é a razão pela qual a equalização pode ser excitante e informativa. Do lado lógico, os dois termos são intercambiáveis, mas em seu lado experiencial a equação inerente é uma compreensão. Ela não é, na verdade, uma equação de unidades idênticas como 1 = 1” (p.19).

Assim, a reversão pode levar a:

(B é inerentemente A) o todo possui suas demandas e necessidades próprias, e a maneira como elas são atendidas reverbera na forma como a identidade plural se organiza.

A segunda reversão gera:

(C é inerentemente A) a tendência atualizante grupal contém o referencial necessário para que um organismo plural possa surgir e desenvolver seu potencial transformador.

Passo 12: Escolher termos permanentes e interligá-los

Esse é considerado o núcleo da teoria nascente. Os termos escolhidos até então tinham caráter provisório, por servirem de rascunho para a elaboração do raciocínio. Esse é o momento de escolher os termos definitivos e encontrar um novo ponto crucial (um padrão) ilógico. Esse tipo de paradoxo tem a função de ativar o potencial simbólico implícito em todo o processo.

O primeiro gancho que emergiu de meu Felt Sense para o padrão ilógico foi: “o menor se torna maior”. Ao verificar sua ressonância, senti que estava próximo, mas ainda não exato. Voltei ao Felt Sense e surgiu: “Há uma tendência de não seguir a tendência”, o que, pareceu, de fato, combinar com o núcleo do que está surgindo.

Os termos que escolho são, de alguma forma, semelhantes aos anteriores, porém reformulados:

A: o organismo plural é uma entidade ;

B: a demanda do todo reverbera na sua identidade ;

C: há uma tendência atualizante grupal.

O paradoxo pode ser um elemento a mais (que precisa ser apresentado):

D: há uma tendência de não seguir a tendência – a tendência atualizante pode sucumbir, pois não é uma garantia; eis a distorção do princípio vital.

A seguir, o jogo conceitual consiste na articulação desses termos com a finalidade de expandir o núcleo teórico em desenvolvimento. Gendlin nos encoraja a explorar o máximo possível as combinações potenciais, que podem derivar novos termos (E, F, G, etc). Como este é um processo trabalhoso, prefiro indicar apenas uma versão resumida do mesmo, a título ilustrativo.

(A em função de B): o organismo plural é uma entidade cujas demandas reverberam em sua identidade, ou seja, a maneira como elas são atendidas influencia, diretamente, a maneira como a identidade se compõe;

(A em função de C): o organismo grupal é uma entidade regida por uma modalidade específica da tendência formativa que pode ser chamada de tendência atualizante grupal;

(A em função de D): o organismo grupal é uma entidade potencial; há uma tendência de essa modalidade transcendente de convívio não aparecer nas situações coletivas do dia a dia;

(B em função de C): a forma como a identidade grupal se constitui é potencialmente saudável, desde que respeitadas as demandas do todo;

(C em função de B, por reversão): há um potencial de organização das necessidades individuais e grupais, articulando-as de maneiras flexíveis e criativas;

(B em função de D): a demanda do todo reverbera na sua identidade. Essa pode não existir ou existir de modo subdesenvolvido devido à dificuldade da equipe (ou conjunto de pessoas) em alimentá-la;

(D em função de B, por reversão): é muito comum priorizar as necessidades das partes em lugar das do todo.

Dessas articulações surge um novo termo:

E: Não há proporções fixas, pré-determinadas – a articulação das demandas individuais e coletivas é dinâmica e variável; a saúde (congruência) tem relação com o ponto ideal dessa relação.

Continuando:

(D em função de C em função de E): não é raro observarmos uma distorção da tendência atualizante grupal. Pode-se imaginar que esse fato tenha relação com o conflito entre as necessidades individuais e as do grupo, ou da maneira de as partes funcionarem em relação ao todo.

Seria possível explorar ainda mais as inúmeras combinações possíveis entre esses termos e os demais que poderiam derivar do processo, porém entendo que desviaria o eixo do trabalho como um todo. Creio que, nesse ponto, o método TAE já é suficiente àquilo a que foi “chamado”. O núcleo do raciocínio já está suficientemente explícito para as considerações finais.

Apesar de as malas já estarem prontas para a última etapa, convém uma breve menção aos dois passos finais do TAE. O passo 13 consiste em aplicar a teoria recém-nascida em outros campos diferentes daqueles sobre o qual foi construída, o que pode trazer novos e interessantes elementos para reflexão.

Sem entrar em detalhes acerca dessas possibilidades, mas também sem furtar-me à questão, como seria pensar questões ecológicas a partir desses termos? Como seria a reflexão a respeito da diplomacia ou da mediação de conflitos? Como seria pensar a psicoterapia de grupos ou a facilitação de grupos de encontro?

O passo 14 (Expandir e aplicar a teoria em seu campo) consiste, justamente, em um aprofundamento da reflexão no próprio campo de interesse. No corpo desta tese, entendo que ele constitui o capítulo seguinte. Caso o método fosse aplicado fora do contexto de uma tese de doutorado, esse décimo quarto passo deveria contemplar, ao menos, os elementos centrais que aparecerão no próximo capítulo.